Em um dos episódios mais emblemáticos do seriado animado South Park, o personagem Kyle Broflowsky, inconformado com a boa sorte de seu amigo Eric Cartman (que não passa de um canalha) em ganhar um milhão de dólares, solta a máxima:
“Cartman consegue ganhar um milhão de dólares, eu tenho uma hemorróida gigante e Michael Bay vai continuar fazendo filmes. Deus não existe.”
Não sei quanto aos problemas de saúde de Kyle, nem quanto aos milhões de Eric Cartman, mas sem sombra de dúvidas, Michael Bay é a prova cabal da falta de substância que impera em Hollywood atualmente.
Vamos realizar um pequeno exercício, ó leitor do com limão: Assista aos seguintes filmes: Armageddon, Pearl Harbor, Bad Boys (I e II) e A Ilha. O que estas películas têm em comum, além de possuírem o mesmo diretor (Michael Bay)?
Simples, eles são mega produções de efeitos especiais, roteiro raso, com muitas explosões, musica dramática, bandeira americana balançando ao vento, atores entrando em cena em câmera lenta… Já mencionei MUITAS explosões?
Os filmes de Michael Bay são produtos milionários e enlatados de um americano para americanos, não importando se estamos vendo uma história de um asteróide, da segunda guerra ou de robôs gigantes.
Robôs gigantes estes que chegam nesta continuação de Transformers (filme de 2007, mediano apenas por ter o dedo de Steven Spielberg com produtor executivo).
Mas enfim, a questão é: Transformers – A vingança dos derrotados é do mesmo nível de seu antecessor?
Bem, o filme é maior. Tudo é grandioso. O personagem Sam (Shia LeBeauf) está na faculdade agora. Megatron, o líder dos Decepticons (voz de Hugo Weaving) está morto no fundo do oceano e os Autobots, liderados pelo glorioso Optimus Prime (voz de Peter Cullen) ajudam os EUA a caçar o resto dos Decepticons sobreviventes ao redor do mundo.
Mas um novo inimigo está chegando, seu nome é Fallen (voz do fantástico ator B e easter egg do filme, Tony Todd) e quer o pedaço do Cubo que ainda está com Sam. E pronto, está armada a desculpa para Micheal Bay torrar milhões de dólares em efeitos especiais de ponta (os robôs realmente são uma beleza de se ver), em piadas de mau gosto (ver a mãe de Sam chapada porque comeu um pouco de maconha ou um robô fazendo movimentos politicamente incorretos não é algo para se ver em um filme dos Transformers…), fazer propaganda pró exercito americano (dá-lhe takes dos soldados com a bandeira americana ao fundo e aquela música de se encher os olhos de lágrimas e a boca de vômito) e closes de câmera em cada curva cuidadosamente cultivada de Megan Fox.
Aliás, acredito que Micheal Bay poderia ter economizado muito dinheiro em simplesmente filmar Megan Fox correndo pra lá e pra cá o tempo inteiro. Não precisaríamos de robôs sem substância, explosões e um patriotismo desgastado.
Mas eis que o leitor do com limão deve estar levantando a questão: Mas e as tão esperadas lutas entre os robôs? Como estão? Bem, ó meus queridos e estimados… As lutas dos robôs são tão confusas que até causam enjôo de ficar encarando a tela, tamanha a bagunça. Não se sabe de quem é o braço mecânico que está batendo em quem. Em um determinado momento achei que estava assistindo a uma suruba de robôs gigantes dirigida pelo mestre dos pornôs italianos Joe D´Amato.
Além disso, famoso por ser um “diretor nazista” em guiar atores, Bay não consegue fazer com que Shia LeBeauf convença como o desesperado Sam Witwiki. E John Torturro (um ensandecido Agente Secreto aposentado) ficou extremamente cartunesco parecendo que saiu direto de “Tratamento de Choque” de Peter Segal. Pelo menos Bay consegue fazer com que Megan Fox fale pouco e mostre o máximo que um filme censura PG-13 permite.
No placar final, Transformers – A Vingança dos Derrotados é um filme desnecessário (porém financeiramente lucrativo), que usa e abusa de efeitos especiais para contar uma história tão boba quanto inverossímil (alguém me explique porque foi completamente ignorado no primeiro filme o fato de que os alienígenas já estavam na Terra há séculos), fazer propaganda do exército americano e ainda tirar sarro da inteligência do expectador.
Desta vez tenho que concordar com Kyle Broflowsky: se Deus realmente existe, Michael Bay TEM que parar de fazer filmes.