Por Kadu, diretamente de Londres.
Na Europa longínqua, medieval, um ambicioso rei tomou o poder de uma cidade vizinha com um ataque violentíssimo, que dizimou diversas famílias. Os camponeses atacados não tiveram como se defender, tamanha a velocidade e barbárie que sofreram. Mulheres e crianças não foram poupadas.
Eis que o tempo passou, e a Justiça cega – mas que enxerga na escuridão – exigiu o pagamento da dívida que o rei contraiu com suas vítimas inocentes. Tal ato desumano deveria trazer conseqüências póstumas ao reinado, imposto através da violência.
Os anos se seguiram, a cidade permanecia abundante e próspera, quando um eremita visitou o reinado com uma mensagem, um presságio: uma praga misteriosa assolaria a cidade na próxima semana e dizimaria 5 mil habitantes.
Perturbado, o rei foi ao encontro da Praga, que se escondia além das montanhas. Enfrentou trolls e mercenários, atravessou a montanha e, completamente cansado, entrou na caverna em que a Praga já o aguardava.
Com o objetivo de pedir para que o terror não se estabelecesse em seu povo, o rei pediu para que a Praga voltasse atrás e não lançasse tamanha desgraça contra o reino. O rei ajoelhou e pediu clemência.
Ela respondeu: “Grande rei, não posso ir contra os preceitos da Justiça, pois ao atacar os frágeis camponeses, você mesmo selou o seu futuro e dos seus protegidos. Porém, como muitas das pessoas que estão hoje no seu reino não participaram ou concordam com o que foi feito no passado, vou diminuir o castigo: eu levarei comigo apenas os 1.000 homens que deflagraram o covarde extermínio”.
O rei, embora contrariado e assustado, agradeceu à Praga e retornou ao seu povoado, onde explicou aos cidadãos todo o ocorrido e pediu para que ninguém saísse de casa na data em que a Praga passasse.
No dia em que a Praga chegou, a cidade estava totalmente silenciosa. No dia seguinte, o rei pediu para seu general averiguar os resultados da tragédia e dar assistência às famílias das 1.000 vítimas. E entrou em desespero ao saber que não foi 1.000. A contagem apontou que foram 5.000 mil os atingidos, mortos pela Praga misteriosa.
Revoltado e sentindo-se enganado, o rei voltou à montanha e, aos gritos, indagou à Praga o porquê da mentira, o porquê de 5.000 vítimas e não 1.000, conforme havia sido acordado entre eles.
Tranquilamente, a Praga respondeu: “Ilustre rei, o senhor veio até aqui há uma semana e me pediu clemência. Eu lhe disse que levaria comigo apenas 1.000 pessoas. E foi o que fiz: eu ataquei somente as 1.000 pessoas. As outras 4.000 morreram de medo.”
Este post, com um conteúdo aparentemente infantil e superficial, foi escrito com o objetivo de fazer uma única pergunta: qual parte de você está se deixando morrer hoje por causa do medo?
nota do victor: Inspirado por uma rápida passagem por Londres, o Kadu montou essa crônica fantástica e como estamos quase no fim de semana, achei uma ótima oportunidade para dar uma prévia do próximo post de games escrito pelo nosso mais novo colaborador. Aguardem!