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Sobre Benjamin Button e SPFW

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E ela já se foi. A SPFW (São Paulo Fashion Week) passou pela cidade e apresentou seu circo de estilos, cores e tendências. Não me refiro ao evento maior do universo fashion com ar de desdém, pois embora eu não seja um fiel entendedor do assunto, jamais negaria a importância da moda como expressão de arte e força social e econômica. E gosto de ver que os estilistas de hoje estão, cada vez mais, vestindo seus modelos como se eles trajassem uniformes de super heróis.

Mas é curioso como o SPFW pode se tornar uma fogueira de vaidades de chamas incontroláveis. E encontrei as primeiras labaredas ao folhear uma publicação relacionada ao evento. O jornal, feito em carbon free, trazia uma seção que apresentava certas “celebridades” do meio fashionista com suas respectivas etiquetas, que muitas vezes pareciam ser o sobrenome, o pedigree (rararararara) dos donos que as portavam, as vestiam. Nele, uma determinada seção apresentava os personagens da vitrine da vez: Fernanda Schmidit com saia Zara, Ademir Bueno com calça Redley. Aí vem o motivo da minha queimadura de primeiro grau: a próxima citação foi a de Soraya Ferreira. Segundo a publicação, ela vestia uma “camisa sem marca”. Parece zoeira ou ainda um mero detalhe, mas me soou bem constrangedor. É engraçado como a vaidade dos humanos pode chamuscar. E das humanas, nem se fala! (rararararararara de novo!)

De forma paralela, sem fazer qualquer menção ao mundo das passarelas, a mensagem do longa O Curioso Caso de Benjamin Button faz uma crítica muito bem construída em relação à escravidão da imagem, como se o personagem desejasse sair das telas e nos acordar, gritar aos quatro ventos que o tempo passa tão rápido que não podemos perder tempo com o perecível, com o transitório, as falsas questões.

Sim, o filme é grandioso sob todos os ângulos e tem grande chance de conquistar todas as categorias em que concorre ao Oscar (e são nada menos que treze). E que não haja dúvidas: não é uma produção de entretenimento com enredo leve, agradável, uma vez que a presença do antagonismo entre a vida e a morte é exposta em quase todos os momentos, de forma decisiva, deixando bem claro nossas limitações naturais e humanas, as quais, segundo o personagem, devemos aceitar e entender como processo da vida – e da morte.

São poucos os momentos que permitem ao expectador respirar, relaxar e esquecer o destino final de cada um de nós: são os depoimentos do homem que foi atingido por raios por várias vezes e o momento em que Benjamin volta à juventude e relembra todo o glamour jovial de Brad Pitt nos anos 90, quando o ator era considerado o homem mais atraente do planeta. A referência ao ícone James Jean é claro, naquele estilão jaqueta preta e motocicleta. É uma relação de metalinguagem entre o ator e o personagem, como se ambos se unificassem na tela.

Enquanto o perecível é celebrado no calor do SPFW, este mesmo perecível parece um iceberg perdido, sem sentido e pronto para derreter e não deixar mais qualquer vestígio na imensidão no enredo de O Curioso Caso de Benjamin Button.

E, de certa forma, é assim que talvez seja necessário entendermos a nossa juventude: algo passageiro que precisa ter seu poder transitório celebrado todos os dias, sem qualquer apego. Da forma como amadurecemos ou no processo reverso – no caso de Benjamin – o tempo passa rápido demais e não merece se perder em um calor que não esquenta nada. Um calor que parece ferver nas páginas das revistas e nas passarelas, mas não pode aconchegar no dia-a-dia.

Vale a pena assistir ao filme, se você estiver naquele momento de revisão de prioridades. E claro, venha comentar aqui!

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