Pra começar esta série de posts, não é preciso ir longe. Will Eisner está para mim e muitos, como Mozart para a música, como Senhor Miyagi para o Karatê, como o Imperador Palpatine para o Papa. O canonizado santo dos quadrinhos, que nos levou a milhões de novos patamares não pode ser lido e observado de uma só vez, numa ida à livraria. E é por isso, também, que não resumirei os posts sobre ele em um só. Acho que é a perfeita oportunidade de analisar a obra desse gigante aos poucos, para que eu também possa crescer.
Como já dizia um professor meu: “não é um curso que vai te fazer grande. É o quanto você aproveita dos conceitos básicos que lhe são passados”. E sua obra é o melhor exemplo disso. Quebrar barreiras foi seu ofício, ao longo dos anos. Podemos ver isso quando encontramos a gravura de uma pedra com um letreiro do enunciado de uma página, guarnecido de trincados, simulando uma lápide, ao anunciar uma história ou evento triste, ou quando o espaço entre quadros – ou sua ausência – nos dá diferentes noções de tempo e espaço.
Qual a expressão que uma cena pode ter, segundo várias formas de iluminação em cima do mesmo personagem, sem alterar sua fala ou movimento? Isso, e um universo a mais. Estudar Eisner é o mesmo que libertar a mente da Matrix, e é assunto primordial em qualquer escola de quadrinhos.
Falando do homem:
William Erwin Eisner nasceu em Nova Iorque, em 06 de maio de 1917, e faleceu em 03 de Janeiro de 2005. Ávido pela leitura, cresceu lendo tirinhas de jornal, o que o levou a seu primeiro emprego: entregador de jornais. Procurou isso para que pudesse ler o máximo que podia. Sua fome pelo saber o iniciou em filosofia e literatura, e refinou sua mente, de mãos dadas com a época em que cresceu, sob a tutela de pais judeus, lembrando que entre 1917 e hoje, temos a Primeira e Segunda Grandes Guerras, num país como os EUA, marcado por elas de forma pesada.
Começou sua carreira artística numa época fértil para os quadrinhos, dentro de sua pequena empresa, chamada Eisner & Iger, pela qual procurava atingir os mais diversos temas e estilos, objetivando o mercado mais forte, então, o de Jornais. Entre os artistas que passaram pela empresa como empregados, estão Bob Kane (criador do Batman), Jack Kurtzberg (vulgo, mais tarde, Jack Kirby, co-criador do Homem Aranha e do Quarteto Fantástico), entre outras lendas.
Em sua longa tragetória de mais de 70 anos de carreira, pôde ver sua arte difundir-se e florescer, indo do nascimento, nas tirinhas, à era digital, tendo seu ponto mais alto quando seu nome foi dado a definir o Oscar dos Quadrinhos. O Prêmio Eisner, entregue anualmente aos melhores do ramo da “Arte Seqüencial”, termo criado pelo próprio, não só deixando mais bonito do que gibi e tirinha, mas ajudando a arte em questão a ser tratada como coisa séria.
Dentre suas maiores obras, certamente a mais famosa é The Spirit, um trabalho pesado e sério, dotado de humor refinado, recentemente transformado em um filme, por Frank Miller.
Para os didatas, há dois livros escritos por ele, explicando todo o ambiente dos quadrinhos: “Quadrinhos e Arte Seqüencial” e “Narrativas Gráficas”, livros que trazem a base para se tornar um artista de mão cheia, como ele. Uma leitura fácil e instigante, que ensina o leitor a criar novos horizontes. Se o ávido fã ainda não se der por satisfeito e quiser ir além disso, sugiro comprar suas Graphic Novels em uma livraria especializada e caçar outros trabalhos didáticos, como “Desvendando Os Quadrinhos” de Scott McCloud, outro que abertamente diz-se influenciado por ele. Outro bom exercício é procurar sua influência em obras atuais. Garanto que ela existirá em qualquer revista quinzenal dos X-men.
A coisa certamente não para por aí, e há muito o que falar sobre este gênio dos Quadrinhos. Porém, acredito que esta breve introdução deve seguir o exemplo de seu objeto, e instigar os leitores a procurar mais e descobrir por si mesmos, o tamanho do legado deste homem, que inspira tanto a mim quanto a muitos outros artistas.
Will Eisner… Pena que já estejas no céu.