As crianças assustadas com as tenebrosas histórias do Homem do Saco e do Monstro Debaixo da Cama, cresceram. Crescidas, resolveram contar as histórias para as outras crianças crescidas… A banda The Birthday Massacre que eu aprendi a curtir pra caramba, tem essa premissa: Levar para o lado da música com mixagens de sons que lembram o famoso industrial, com um toque da nostalgia dos videogames, a nostalgia da infância que tentamos esquecer em um lugar onde tudo remete aos seus medos obscuros – algumas letras realmente assustam, se você pensar com a mente infantil. Uma lembrança dos medos que você não superou, mas aprendeu a bloquear. E pesquisando esses caras, dei de cara com outra artista, que me encheu os olhos com seu trabalho. Falo da fotógrafa deles, Isabelle Ribeiro.
Por ironia do destino, descobri que era uma brasileira, e pelo próprio vínculo, corri a trocar uma idéia com esta interessantíssima pessoa, pra trazer pra vocês um pouco do mundo de quem trabalha com fotografia, especialmente em se tratando de fotografar bandas. Então, sem mais demoras, apresento-lhes Isabelle Ribeiro e suas bonecas!
D.: Nome Inteiro e idade.
Isabelle: Isabelle Hashem Ribeiro, 24 anos.
D.: Então, minha filha. Não escrevi nada, porque eu quero que seja uma entrevista dinâmica…
Isabelle: Oba, legal. Gosto mais assim!
D.: Acho que a gente tem que começar mencionando seu trabalho, mas em cima da sua formação… O que você viu nas fotos? Do tipo, qual foi o dia em que você encanou de ser fotógrafa?
Isabelle: Bom, eu fiz faculdade de artes. E num dos semestres, tive que fazer uma aula pra conseguir mais créditos. Resolvi pegar fotografia, por falta do que fazer. Nisso eu acabei me apaixonando. Acho que o fato de você segurar uma câmera e ter total controle sobre o restultado final da imagem criada… isso me atraiu!
D.: E depois resolveu viver disso? Teve alguém que te incentivou, te apadrinhou ou foi uma coisa mais sua?
Isabelle: Minha família sempre me incentivou. Meu pai principalmente. Ele me deu meu primeiro kit de luzes, na época nem sabia usar direito. Mas nisso fui aprendendo, e nesses últimos dois anos comecei a expor fotos em galerias e também comecei a fazer retratos para conhecidos. Resolvi desistir de um emprego normal!
D.:Muita gente tem essa dificuldade em entender a diferença de tentar uma carreira num negócio dito “incerto” como a arte. Muita gente tem muita vontade de sair do emprego para escrever, pintar, desenhar, atuar, e não sai porque tem esse senso de que arte não dá dinheiro. Qual a sua posição nesse quesito?
Isabelle: Em parte isso é verdade. Imagino que como ilustrador você também saiba como é difícil! Eu acho que na área da fotografia, as coisas são um pouco mais fáceis comercialmente. O segredo é saber fazer seu próprio marketing, saber se promover. Conseguir lucrar com o aspecto ‘artístico’ da fotografia é bem mais difícil. Já participei de inúmeras exposições, mas até agora só gastei, nada de lucro. Por isso resolvi explorar também a fotografia comercial.
D.: Você trabalhou recentemente com a banda The Birthday Massacre, que está começando a ficar bem conhecida pelo mundo afora. Aqui no Brasil, ela é um pouco mais underground, mas conheço muitos fãs… Fiquei surpreso ao descobrir que eles tinham uma fotógrafa brasileira… como se deu esse primeiro encontro? Você já tinha contato, ou foi algo que você buscou na “caruda”?
Isabelle: Eu definitivamente busquei na “caruda”. Eu era fã da banda faz um tempo (desde que ouvi Video Kid). Quando soube que eles viriam aqui pra Orlando em turnê, fui atrás do manager dos caras, mandei e-mail e ofereci uma sessão de fotos. Para minha surpresa, ele me respondeu, e disse que a banda gostou do meu trabalho (e nessa hora eu provavelmente tive um mini-derrame). Marcamos a data para o dia do show mesmo, e como eles estavam com pouco tempo, fizemos as fotos no próprio lugar do show. Levei minhas luzes e arrastei uma amiga pra ser minha assistente…e em meia hora fizemos as fotos!
D.: E como é trabalhar com uma banda? Digo, o seu trabalho tem uma responsabilidade bem maior, quando o cliente é mais pesado. Como foi a relação?
Isabelle: Eu já havia trabalhado com bandas antes, mas nesse caso foi um pouco mais assustador por serem uma banda internacional que, mesmo sendo um tanto underground, tem muitos fãs. Fiquei um pouco nervosa antes da sessão de fotos, mas no final das contas, os caras foram super pé-no-chão, simpáticos, e profissionais. Fotografar bandas é muito mais divertido pois eles se divertem e isso gera fotos bem legais!
D.: QUE MASSA! Então você já fez com outras bandas? Alguma conhecida aqui no Brasil, para os eventuais fãs?
Isabelle: Já trabalhei com uma banda local de metal chamada Ring of Scars. Pra quem curte esse tipo de som, recomendo! Também já trabalhei com uma banda chamada Antifaz, eles tem um som muito legal, inclusive com uma influência brasileira!
D.: Que show! No quesito do trabalho pessoal, uma coisa que me chamou muita atenção, bem como a de muitos outros, foi seu trabalho com bonecas… Achei muito original a forma com a qual você fotografa elas. Qual a influência que você recebeu para conceber esse trabalho?
Isabelle: Eu tenho um histórico bem emocional com meus bonecos. Estava passando por uma fase muito chata de depressão e ansiedade, quando vi um desses bonecos na internet. Pesquisei e resolvi colecionar. Na época, também comecei a fazer aulas de fotografia, e uma coisa levou a outra. Meus bonecos foram meus ‘modelos’ para as fotos. Quando eu faço fotos dos bonecos, eu estou em total controle: controlo o ambiente, a posição, a roupa, os cabelos, os olhos, a luz. Eu acho que as fotos que faço dos bonecos são sobre CONTROLE, pois é algo que eu não tinha na minha própria vida. Elas representam o que eu passei, nos momentos de escuridão,e nos momentos mais leves.
D.: Acho que a música, o teatro e o desenho são partes importantes na fotografia. Em quais mestres você se baseia para estudar?
Isabelle: Definitivamente acho que outros tipos de arte inspiram minha fotografia! Sou fã de Mark Ryden, Trevor Brown, Ray Caesar… claro que também sou fã de fotógrafos, como Erwin Olaf, Elena Dorfman, e Jill Greenberg.
D.: Alguma experiência única pra passar para os estudantes, fãs e observadores interessados?
Isabelle : Olha, eu vou falar de uma experiência que me incentivou à não desistir de tentar uma carreira como fotógrafa: Certo dia fui chamada pra uma entrevista de emprego, e o título era ‘fotógrafa’. Fui lá toda animada, não sabia ainda os detalhes. Quando cheguei no lugar, o cara me falou que o trampo era ficar na frente de um restaurante, segurando PAPAGAIOS, e tirando foto de turistas com os papagaios. Para finalizar com chave de ouro, o cara ainda me fala ‘Mas você é brasileira, deve ter visto vários papagaios já!’. Conclusão: saí de lá sem nunca mais olhar pra trás. Naquele dia decidi que iria fazer o máximo pra ter sucesso como profissional freelancer, e que eu não ia trabalhar pra estúdios ridículos ou restaurantes absurdos que tem papagaios. Não desistam!
Quem curtiu a entrevista, curte a banda ou os trabalhos dessa fantástica fotógrafa, pode também segui-la no Twitter!