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Entrevista com Davi Garcia – Teorias e o seu mundo particular na ilha de Lost

Por Pablo Vallejos

Durante seis anos, uma legião incontável de pessoas se entrelaçaram por um único elemento em comum: o seriado “Lost”. Os fãs da série nunca perdem o fôlego. Estão sempre confabulando e criando teorias diversas; são incansáveis. Mas o que realmente se destaca neles talvez seja a mensagem que vão levar para o resto da vida assim que a série acabar, neste domingo, 23 de maio.

Um enredo corajoso sobre um acidente de avião que levou pessoas a uma ilha misteriosa se transformou no seriado, que foi lançado em setembro de 2004 e já entrou para a história. Foram sites, jogos virais, blogs, webcomics, curta metragens, entre muitos outros, que cultivaram a paixão por “Lost”.

A história não precisa ser exatamente definida, mas fala sobre vida e morte, queda e ascensão, ruína e redenção e – talvez mais importante – fé e razão. Além disso, o contraste entre personagens e as histórias que se cruzam, gerando um debate entre destino versus acaso, foram sempre presentes ao longo da série. A fusão de todos esses elementos conquistou pessoas que, mesmo com altos e baixos da série, nunca abandonaram a vontade de presenciar o momento final.

Aqui, em solo tupiniquim, não foi diferente. Os fãs brasileiros não puderam reclamar de falta de informações sobre o seriado. Pelo menos, não aqueles que navegam pela web, pois ninguém manteve mais a chama acesa quanto o blog Dude! We Are Lost, pioneiro e endereço fixo para todos que procuram tudo sobre a série.

Nas noites de terça-feira, os fãs internautas mantiveram uma vigília quase que sagrada na espera pela exibição de um novo episódio – que ia ao ar no Canadá e nos Estados Unidos, transmitidos por sites como Justin.TV. Depois de aproximadamente 45 minutos com os olhos fixados em “Lost”, a visita ao Dude! (como é intimamente chamado pelos fãs) é clique certo.

Poderia ter criado um grupo que se reunisse semanalmente, poderia ter trocado teorias por MSN, Orkut ou qualquer outro meio, mas foi um blog que criou um legado no que diz respeito à busca de informações sobre o fenômeno que é “Lost”.

Davi Garcia, um administrador de 31 anos, soube traduzir toda a adoração pelo seriado, e é o criador do Dude!, que hoje possui nove milhões de acessos desde a estréia, no início de 2006 – tendo picos de acessos, como no dia 12 de maio, quando teve 42 mil pageviews. Além disso, o administrador conta com a colaboração de Juliana Ramanzini, que é também sua esposa, para o desenvolvimento do blog. Ambos se tornaram ícones, no que diz respeito à representação de “Lost” no Brasil.

Em uma entrevista exclusiva ao Com Limão sobre as expectativas para os momentos finais do último episódio, no domingo – que terá uma hora e quarenta minutos de duração -, Davi também compartilha a sensação de ter sido parte desse fenômeno mundial, representando a bandeira verde e amarela.

Com limão: Durante seis anos, não há quem reclame de poucas informações sobre Lost. Muitas comunidades de Orkut foram instaladas, tópicos, fóruns, entre outros. Nenhum deles liderou a gama de sites brasileiros da maneira que o Dude! We Are Lost o fez. Depois de tanto tempo, em sua opinião, qual foi a maior evolução no site?

Davi Garcia: Certamente foi ter passado da posição de ‘mero’ blog voltado para notícias e curiosidades dos bastidores da série, para um espaço que atraiu e alimentou tantos pontos de vista heterogêneos em torno da evolução e dos temas da série. Sob o prisma do que evoluímos nesse tempo, creio que tenha sido no exercício de aprofundarmo-nos mais nas análises e no de catalisar as discussões e interagir com os leitores através de vídeos e principalmente dos podcasts.

Com limão: Como o site não busca ter nenhum tipo de remuneração, creio que deve ter sido difícil conciliá-lo com a vida profissional. Mas, como todos os leitores do Dude! sabem, você nunca ficou sem comentar episódios. Criou-se um comprometimento com aquilo que você passava, além do próprio seriado. Conte um pouco sobre o trabalho desenvolvido e a firme presença desde o início da série.

Davi Garcia:Confesso que equilibrar esse, para uns, excêntrico hobby com a vida profissional exigiu muito de mim. Há dias em que a estafa é bem grande, mas desde o momento em que me propus a fazer o blog, o faço com dedicação. É como sempre digo, um trabalho de fã para fã e, no fim, ver o tamanho que o blog atingiu hoje e a repercussão que ajudou a gerar em torno da série no Brasil acaba sendo o maior salário que poderíamos ganhar.

Com limão: Há sempre um embate comentado por telespectadores: uns afirmam que séries como Lost são perda de tempo pois estão sempre “enrolando com novas perguntas”, enquanto para outros, a existência daqueles 45 minutos de seriado é muito significante. Para você, sobre o que é o show e o que ele representou na sua vida?

Davi Garcia:É tudo questão de ponto de vista. Se você não gosta de se envolver ou de ter que mergulhar no desafio de interpretar o que a série mostra, Lost definitivamente não serve e a melhor saída é seguir um [seriado como] “CSI” da vida para ter tudo cem por cento elucidado ao fim de cada episódio. Por outro lado, se você gosta de se divertir com esse desafio de buscar entendimento sobre uma obra que mescla tantos temas em tantas histórias, acompanhar Lost é um prazer e um presente. É assim que vejo a série e é isso que ela representa para mim.

Com limão: Os encontros de Lost, de uns tempos para cá, foram muito solicitados nos comentários do Dude! Tendo em vista essa grande procura pelo contato com você e a sua esposa, Juliana Ramanzini, e os debates em si… Você acredita que o Dude! representou bem uma legião de fãs brasileiros que buscam informações sobre Lost, se esticando por estados?

Davi Garcia:Ah, sem dúvida nenhuma. O blog é visitado por fãs da série do Brasil inteiro e até mesmo por gente que mora em outros países (Portugal, França, Alemanha, Japão e etc). Pode parecer presunção dizer isso, mas o blog ajudou e muito a divulgar e a alimentar o interesse pela série.

Com limão: Davi, chegou a hora de se despedir daquela rotina de novos episódios a cada semana, curiosidades e especulações. Descreva sobre a sensação de se dedicar durante seis anos por essa série historicamente marcante e vê-la terminar.

Davi Garcia:Mentiria se não dissesse que vou sentir saudades dessa rotina e principalmente da série, mas por outro lado entendo que é essencial que ocorra o desfecho da trama. O planejamento dos responsáveis pela série (concorde ou não com os rumos dados) foi feito para que chegássemos a esse momento.

Tudo que é bom tem que terminar um dia e com Lost não podia ser diferente. A série vai deixar um legado importante para a TV, pois provou que é possível unir entretenimento com alta qualidade técnica e narrativa.

Fui fisgado por “Lost” logo de cara porque a série era diferente, ousada e instigante. Para mim, o principal mérito da produção foi construir e desconstruir temas, ideologias e principalmente os personagens ano após ano, mas sempre com coerência. De um jeito ou de outro, sempre nos enxergávamos nas qualidades e nos defeitos de personagens como Jack, Sawyer, Locke, e com isso nos envolvíamos e, por tabela, com os mistérios que surgiam em torno deles.

Agora que chegamos ao desfecho dessa saga, minha principal expectativa é que o último frame de “The End” (nome do episódio final) desperte em mim o desejo imediato de redescobrir a série desde o início vendo tudo de novo.

Pablo Vallejos é assessor de imprensa e editor de vídeos. Além de cinéfilo e amante da publicidade, é colaborador do Com limão no Rio de Janeiro

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