Em 2010, um desafio foi deixado às empresas, aos governos e às ONG’s: substituir favelas por moradias bem estruturadas e higienizadas que não custem mais que 300 dólares. Isso mesmo, apenas 300 dólares!
O economista Vijay Govindarajan, da Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos, em parceria com Christian Sarkar, profissional de marketing de longa data, elaborou a proposta mirabolante em um artigo publicado pela Harvard Business Review.
De tão surpreendente, a ideia fisgou pessoas de todo o mundo pelo colarinho. Menos, ao que parece, a mídia e as autoridades brasileiras.
A repercussão do artigo foi instantânea. Logo ganhou as páginas da revista britânica The Economist, em abril deste ano. Desde o sucesso inicial, os autores tentam extrair do projeto uma gota de realidade, de factibilidade. Isso por meio do blog 300house.com – lugar em que são discutidas as maneiras mais eficientes para que o plano seja posto em prática – e dos esforços de estudantes, voluntários e intelectuais, que atuam em diversas áreas, do design aos modelos de negócios.
Mesmo que qualquer país, de acordo com os criadores, possa ser alvo do projeto, há lugares, como o Brasil, em que a carência por moradias adequadas é extrema. Indonésia, Haiti e Índia podem, portanto, compor o primeiro time de beneficiados.
Não à toa, é daí que surge a minha inquietação. A ideia, por mais que pudesse ser freada pela realidade brasileira – burocracia excessiva, ineficiência da administração pública, escassez de terrenos e etc -, merecia o escrutínio da imprensa nacional, que nem sequer tocou no assunto. O desafio proposto passou em branco pelo Brasil. Se não chegou aos jornais, revistas e blogs, imaginem se a informação despertou o interesse de algum canastrão do Planalto.
Teses como essa, apesar de parecerem ingênuas, se compatibilizam com o perfil de consumidores ao qual aderimos. Hoje, nós queremos bons produtos a preços baixos. As empresas também ganhariam com casas a 300 dólares. Esta seria uma oportunidade para fornecerem bens e serviços a milhões de pessoas que ainda não sabem o que é viver bem. Colocar em prática um projeto ambicioso como 300house significaria utilizar o capitalismo contra ele mesmo. Ou seja, ganhar dinheiro com a diminuição da desigualdade social.
Como uma casa pode chegar a 300 dólares? Primeiramente, uma gigantesca escala de produção. Por isso a presença da iniciativa publica-privada no projeto seria imprescindível. Apenas eles conseguiriam reduzir os custos de cada componente utilizado na construção e financiar o valor das casas.
As casas seriam construídas de modo a atender as necessidades básicas dos moradores. No entanto, todos os componentes seriam de última geração. Painéis solares seriam um dos atrativos. Eles abasteceriam a casa com energia limpa. Água filtrada, esgoto e tela contra mosquitos são outros dos features essenciais.
Já em relação ao design, nada ainda foi feito. Isso porque os criadores, por meio de um concurso encerrado em junho, deixaram a responsabilidade para designers de todo o mundo. Os vencedores, além de receberem prêmio de 25.000 dólares, terão a chance de ver erguidas as paredes, portas e janelas, que antes representavam um emaranhado de traços em seus esboços originais.