Dificilmente falo sobre política no Com limão. Quem é leitor antigo sabe que já tivemos alguns textos falando sobre os problemas entre palestinos e israelenses, mas isso foi há muito tempo.
No entanto, uma onda de ciberativismo inundou nossa internet tupiniquim e é difícil ficar neutro quanto a isso. Qualquer comentário feito nas redes sociais já viram um embate entre time A e time B. Mas, é claro, não vou falar qual a minha posição sobre impeachment, mas sobre a chegada da Operação Lava Jato às agências de publicidades e o bom (e respeitoso) uso do dinheiro público.
Caso #1: Borghi/Lowe e produtoras
Quem trabalha na área sabe que a Borghi/Lowe não é uma agência pequena. Vencedora de prêmios internacionais, ela e mais seis produtoras são suspeitas de pagarem propinas para o ex-deputado André Vargas. Durante os últimos seis anos, a agência manteve contrato com a Caixa Econômica e o Ministério da Saúde.
Caso se confirme a acusação, será uma vergonha para o mercado publicitário ter uma agência desse porte envolvido em esquemas tão obscuros. Como o caso ainda segue em investigação, prefiro me abster de comentários mais aprofundados e prometo discutir mais sobre isso no futuro.
Caso #2: Leo Burnett e o #HumanizaRedes
Neste caso podemos ir mais a fundo. Isso porque o caso não envolve corrupção (até onde se sabe), mas preguiça.
Segundo o portal Transparência, da Controladoria Geral da União, em 20/01/2015 foi pago à agência Leo Burnett Publicidade LTDA., a quantia de R$ 300 mil pela: prestação de serviço de publicidade, compreendendo o conjunto de atividades realizadas integramente que tenham como objetivo o estudo, o planejamento, a conceituação, a concepção, a criação, execução interna, intermediação e a supervisão da execução externa e a distribuição de publicidade de competência da Secom aos veículos e demais meios de divulgação.
Esse generoso valor inclui o desenvolvimento da marca #HumanizaRedes. Segundo o site do projeto, “a logomarca (sic) do Humaniza Redes – Compartilhe o Respeito foi desenvolvida pela agência Leo Burnett Tailor Made, responsável pela conta da Secom, conforme apontado no Portal da Transparência. A agência Leo Burnett ganhou licitação para prestar diversos tipos de serviços ao governo federal. O valor do serviço é equivalente ao contrato todo e não somente para a criação de um logotipo. O Humaniza Redes esclarece que não há plágio, visto que a imagem é encontrada como royalties free, no banco público Getty Images”.
Ok, entendo bem… mas usar uma imagem royalties free como logotipo? Qualquer criativo no segundo ano de faculdade consegue fazer duas digitais.
Vamos dizer que apenas 10% dos 300 mil reais foi para o desenvolvimento do logo, ou seja, 30 mil reais. Se calcularmos que a imagem em alta – segundo o link divulgado pelo site do #HumanizaRede – custa US$ 699 (aproximadamente R$ 2180,00), a agência faturou mais de 27 mil reais limpo! LIMPO! Sem nenhuma necessidade de trabalho.
Leo Burnett, 27 mil reais para “criar” uma marca com um símbolo já feito em um banco de imagens é uma grande piada.
Não estou dizendo que a agência fez algo ilegal ou errado, mas eu – como criativo – teria vergonha de dizer que fiz isso. Teria contratado um estagiário, pago três mil reais e feito um trabalho justo. Justo do ponto de vista criativo. Justo com o valor pago dos cofres públicos. Justo com o nome e a história do americano Leo Burnett.
Concordo que não foi plágio, afinal, a imagem está lá para ser comprada e usada, MAS… você acha isso digno da sua história? Dos profissionais que trabalham para você e que não estavam envolvidos neste projeto?
No final da história, não foi plágio, foi preguiça. E você, eles e eu pagamos por essa preguiça com dinheiro de impostos.