Nas últimas 24 horas, o Atlético-PR tem recebido uma enxurrada de críticas devido a um redesign. O Furacão, como é conhecido o time de futebol, não fez um simples redesign no seu escudo. Pelo contrário, o clube decidiu mudar escudo e grafia (agora o nome do clube é escrito com “h”, ficando Athletico Paranaense).
A parte interessante é que o Atlético (ou Athletico) não contratou qualquer escritório para a tarefa. A responsável pelo design é a OZ Estratégia+Design, uma velha conhecida do mercado de comunicação e com vários trabalhos e prêmios. Em declaração para a Globo.com, Giovanni Vannucchi, sócio-fundador da Oz, afirmou que “o escudo reúne ideias que vem do vento do furacão, detalhes da bandeira do estado do Paraná e também do conceito de crescimento. Conforme ele, uma pesquisa realizada mostrou que havia a necessidade de ligar mais o clube a um furacão.”
Ok, até aqui tudo bem. Então, por que o novo escudo não foi bem aceito pela torcida (e fãs de futebol)? A resposta é simples… mudança drástica. O futebol é algo “sagrado” no Brasil. Logo, clubes e seus símbolos são representações que vão além da racionalidade, e mexem com o emocional dos torcedores. Isso não quer dizer que não devemos atualizar os símbolos, mas eles precisam de tempo.
Ao contrário de uma empresa qualquer, o time não foi comprado ou fez parte de uma fusão com “concorrentes”. Mudar o logo (ou escudo) e de forma tão impactante gera estranheza. Mais do que isso, não existe um motivo plausível para uma mudança desta magnitude. Aliás, existe um motivo, sim. Devaneios de um presidente…
De acordo com a Globo.com, “as mudanças realizadas pelo Atlético-PR não foram tão radicais quanto propunha o presidente do clube, Mario Celso Petraglia, que chegou a dizer que o estudo previa até mesmo a mudança das cores símbolo. Petraglia disse em entrevista que gostaria até mesmo de mudar o nome do Atlético-PR para Paranaense, para que houvesse uma diferenciação com outros clubes como o mesmo nome, sobretudo o Atlético-MG.” Parece que as opiniões do atual presidente casam bem com o início do vídeo promocional: “Falem o que quiser sobre a gente”.
De novo, não foi plágio: Vamos falar sobre estética…
Existem formas que são clichês. Elementos da natureza, corpo humano e outras representações comuns a todas as culturas tendem a ser iguais ou bem semelhantes. Quando você tenta colocar um furacão estilizado dentro da forma de um escudo, a tendência de tropeçar em semelhanças é grande. O que aconteceu com o Atlético (Athletico) Paranaense? Mirou na modernidade, acertou no logo da Nike de 2015.
Passado é legal, mas algumas coisas ficam por lá
O passado é muito legal. Sou um dos grandes defensores da tradição. Acho que perdemos um pouco da história no mundo hiperconectado em que vivemos. Mas existem coisas que deveriam ficar no passado. Grafias antigas, como “Athletico”, são um belo exemplo de evolução que deveria ficar no passado. É legal resgatar a história, mas algumas grafias ficam parecendo que você voltou para 1924. Sem contar que, sejamos franco, tem gente que não sabe escrever “Atlético”, imagina então “Athletico”.
Exemplos, eu vejo exemplos por todos os lados
Por fim, nós temos uma infinidade de exemplos (bons e ruins) que servem de receita de bolo para este tipo de situação. Vou mostrar dois deles: Juventus e Barcelona.
Os dois times europeus passaram por redesign nos últimos anos. O time italiano, a Juve, foi na linha do brasileiro e, em 2017, sofreu uma mudança brusca. O escudo oval deu espaço para um “J” estilizado nas cores do time e com ele veio uma enxurrada de críticas. O trabalho de redesign da Juve foi da Interbrand, outra famosa do mercado. Na época, o diretor da agência, Manfredi Ricca, afirmou: “Uma marca representa a paixão além da parte comercial do clube, por isso a desconfiança é compreensível. Respeitamos os torcedores, mas, com o tempo, eles mudarão de ideia. Do ponto de vista estético, podem gostar ou não, mas todos vão notar a coragem.” Temos que concordar que a declaração soou como um famoso “a sua opinião é válida, mas não vou mudar.”
Já o Barcelona foi na contramão de tudo isso. Talvez porque o clube seja um símbolo para os catalães, o Barcelona decidiu fazer um processo de redesenho bem mais suave e, mesmo sendo aprovado pelo Conselho de Diretores, consultou seus associados. “O novo design agora tem maior capacidade de reprodução, especialmente no mundo cada vez mais importante da mídia digital”, explicou o time. Ou seja, o redesign tinha um propósito. Mesmo assim, como os demais logos deste texto, o escudo do Barcelona também recebeu críticas (veja bem, crítica é algo bom e sempre existirá).
Qual foi a atitude do Barcelona? Segundo o UOL, o presidente do clube, Josep Maria Bartomeu, afirmou que o escudo será redesenhado antes de passar pela aprovação dos associados. “Faremos algumas mudanças internas, está claro que esse escudo não irá adiante. O sócio do Barcelona não entende por que as iniciais não estão dentro do logo. Tenho que aceitar que é um desenho que não agradou aos sócios”, afirmou Josep Maria à “Rádio Catalunha”.
Barcelona e Juventus foram apenas dois exemplos. Segundo o LogoBr, é possível conferir o escudo (e sua história) dos 49 clubes que disputam a Premier League desde 1992. Vale a pena conferir para conhecer um pouco a história de cada um e ter outras referências e exemplos.
Já o Atlético… Resta saber se o time brasileiro escutará a opinião dos torcedores ou seguirá tendo a palavra do atual presidente como decisão final. Como um torcedor falou nos comentários do site do clube: “Eu entendo a inovação, na verdade acho ótimo inovar. Mas deviam consultar a torcida, pelo que vejo, quase ninguém gostou. Isso não importa?” Vale lembrar que presidentes vêm e vão, mas a instituição Atlético-PR.