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Designer Ativista, eu? Como?

Esse título pode ser confuso para muita gente, mas como diz Ruben Pater no Livro “Políticas do Design” (um livro necessário para qualquer designer e que recomendo…

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Esse título pode ser confuso para muita gente, mas como diz Ruben Pater no Livro “Políticas do Design” (um livro necessário para qualquer designer e que recomendo muito): “Não dá para separar o design da vida pessoal, da mesma maneira como não dá para separar o design da política”.

Sinceramente, ser designer ativista não é apenas não usar imagens e conteúdos racistas, machistas e transfóbicos, pois isso é o dever de qualquer designer. Assim como descolonizar a arte do design e descentralizar o monopólio de conteúdos em inglês. Isso é o reflexo da responsabilidade como indivíduo que somos em transformar a sociedade e a política na qual fazemos parte.

No entanto, não estou falando sobre político-partidário.

O que quero falar nesse texto é sobre como nós, designers, podemos trabalhar em movimentos sociais e mobilizações que acreditamos serem importantes para ampliar as pautas de discussão.

Fernanda Meireles, Product Designer da Jüssi e designer ativista

Mas antes vou me apresentar. Me chamo Fernanda, tenho 31 anos, sou product designer, curitibana e ativista. Trabalho desde os 17 anos e cresci na periferia de Curitiba. Estudei em escola pública a vida toda e consegui entrar na faculdade por medidas progressistas de um governo que não está mais no poder. Ao longo da minha vida acadêmica e profissional, sempre questionei o mercado de trabalho, o consumo e pautas que eu sempre lutei desde os grêmios estudantis. Trabalhei em muitas empresas e com isso, sempre fui tentando encaixar o meu momento de trabalhar com algo que faz sentido para mim, foi quando eu conheci a área de UX.

A experiência do usuário não fala somente sobre processos e metodologias, mas fala principalmente sobre pessoas. Pessoas que fazem parte da construção de produtos digitais e de serviços voltados para pessoas. Entendemos que é necessário pensar nas necessidades delas e como elas irão interagir com o nosso projeto.

Em 2019, me mudei para São Paulo e senti falta de trabalhar com o ativismo que eu já atuava em Curitiba de forma autônoma. Foi assim que eu conheci o Design Ativista, um movimento totalmente voluntário e sem fins lucrativos, que luta em frentes amplas como a criação visual e design de guerrilha com pautas atuais, como escândalos na política, meio ambiente e feminismo, entre outras, assim como com produtos digitais para conectar outros ativistas de movimentos que não tem o design como ferramenta de trabalho.

As convocatórias são formas de chamar designers de várias frentes (gráfico, motion, ilustradores, produto, etc.) para trabalharem em projetos que o movimento está puxando durante um fim de semana (ou mais). Foi por causa de uma dessas convocatórias que entrei no movimento e sigo participando até hoje.

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Designers dispostos a passar o final de semana inteiro colocando toda a sua experiência profissional, em prol das causas que acreditam, seja construindo um evento ou um produto digital, é possível usar o que você sabe para construir algo que possa impactar a vida de alguém e mover o mundo na direção que queremos. Inclusive, usamos o termo “hackear o sistema” porque todas as metodologias que conhecemos acabam sendo aplicadas nos projetos do Design Ativista.

Costumo falar que o ecossistema do Design Ativista é o mesmo que conhecemos no mercado, a diferença é que não há concorrência. É uma forma de trabalhar de maneira mais sustentável e coletiva. Usamos ferramentas de código aberto e não existe um dono do projeto. E tudo de todes, sem exceção.

Mas Fernanda, como que eu participo? Pois bem. O Design Ativista é orgânico. Quer participar? Só vem. Dedica seu tempo livre para isso, acompanha as nossas redes e vem somar com a gente, porque tem muita coisa para fazer sempre. Ele é contínuo e dinâmico.

Quando um projeto é iniciado, existe um formulário onde você pode se inscrever, colocar as suas habilidades e o tempo disponível que você tem para trabalhar. Existem pessoas que trabalham 2 horas por dia ou até um final de semana inteiro. Nós não somos detentores do tempo de ninguém e sabemos que a coletividade é o caminho para construir um projeto consistente e respeitoso do momento de cada um. E para deixar claro, nenhuma empresa tem algum tipo de relação com o Design Ativista, somos um movimento independente e continuaremos assim.

Anualmente, nós temos uma maratona para a construção do Encontrão do Design Ativista que acontece sempre em dezembro. A maratona é totalmente colaborativa. Recebemos pessoas de várias áreas para ajudar a organizar o evento que é considerado o maior encontro de designers ativistas do mundo. Oficinas, rodas de conversa, ter a experiência de conhecer outras pessoas que estão na linha de frente de outros projetos, são algumas das dinâmicas desse encontro. É nesses momentos que a gente percebe como é incrível promover essas trocas entre diferentes lutas e claro, não deixar a chama do ativismo se apagar.

Em 2019, inclusive, eu conheci o David Carson, um designer californiano que simplesmente foi o tema do meu TCC na faculdade. Consegue ver a dimensão que isso pode chegar?

Mas ainda assim, com todas as nossas qualidades, ainda estamos na construção de uma coletividade mais ampla. Por exemplo, como o mercado do design em geral, ainda não temos uma diversidade de pessoas: pessoas pretas, periféricas, pessoas trans. E sabe por quê? Porque essas pessoas estão lutando na sua dignidade para trabalhar e conseguir se sustentar, e o mercado de trabalho precisa entender isso. É necessário contratar essas pessoas, abrir os olhos para como essas pessoas são marginalizadas, pois não tem acesso aos mesmos recursos que eu, por exemplo, que tive sendo uma mulher branca cis. E mesmo crescendo na periferia e tendo escassez de recursos, eu reconheço que os espaços que eu pisei depois da faculdade foram sim privilégio cis e branco.

Ou seja, eu termino esse texto dizendo que ser ativista é privilégio branco. É necessário questionar todo o ecossistema do mercado de trabalho, para depois ampliarmos a pauta. Isso é o nosso papel, reivindicarmos que os espaços de design sejam espaços amplos e sem preconceito, que seja um espaço de convivência coletiva de qualquer pessoa.

O trabalho do designer ativista é questionar o status quo da sociedade.

Por Fernanda Meireles, Product Designer da Jüssi e designer ativista.

Ouça também o nosso podcast: Design e os impactos na sociedade



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