Impacto

Pesquisa: Em 20 anos, internet subiu de 13% para 85% nos lares brasileiros

TIC Domicílios, pesquisa conduzida pelo Cetic.br|NIC.br, apresenta série histórica sobre o uso da Internet em domicílios brasileiros e os avanços do cenário.

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Duas décadas de expansão da Internet no Brasil são reveladas na nova edição da TIC Domicílios, lançada nesta quinta-feira (31). A pesquisa, conduzida pelo Cetic.br|NIC.br, apresenta uma série histórica sobre o uso da Internet em domicílios brasileiros, refletindo transformações marcantes desde 2005, quando apenas 13% das residências urbanas contavam com conexão. Em 2024, essa proporção chega a 85%, evidenciando um avanço considerável na inclusão digital e totalizando 141 milhões de pessoas que se conectaram ao digital nos últimos três meses.

E a análise não para aí: considerando o uso ampliado – que inclui atividades online feitas no celular sem acesso direto à rede –, a proporção chega a 90%, mostrando como a Internet permeia o dia a dia no país. O estudo destaca uma evolução no modo de conexão. Há 15 anos, as populares lan houses dominavam o cenário, mas hoje 99% dos brasileiros preferem o celular, com a televisão assumindo o segundo lugar (60%) como dispositivo de acesso. É notável a queda do uso do computador, agora com 40%, indicando uma preferência consolidada pelo acesso direto de dispositivos móveis. Entre os brasileiros das classes DE, a dependência do celular é ainda maior, com 86% usando apenas o telefone para se conectar.

“As duas décadas de coleta de dados revelam um cenário bastante dinâmico, passando de 1 a cada 8 domicílios com Internet em 2005 para 7 a cada 8 domicílios conectados em 2024. A forma como as pessoas acessam a Internet também se transformou marcadamente: em 2008 usuários se conectavam à rede mais em lan houses ou ‘Internet cafés’ do que em seus domicílios, e esse acesso era feito por meio de um computador. Atualmente, quase todos se conectam de seus domicílios e a partir de um smartphone

Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.

Apesar dos avanços identificados pela série histórica da pesquisa, ainda há desigualdades marcantes. A Internet, por exemplo, está presente em 100% dos domicílios de classe A, mas em 68% dos lares das classes DE. Nas áreas urbanas, 85% das residências estão conectadas, enquanto nas rurais, a proporção é de 74%. Além disso, há 29 milhões de não usuários de Internet, sendo que 24 milhões deles moram em áreas urbanas, 22 milhões possuem até o Ensino Fundamental, 17 milhões se declaram pretos ou pardos, 16 milhões pertencem às classes DE e 21 milhões vivem nas regiões Sudeste (12 milhões) e Nordeste (8 milhões).

A pesquisa revela, ainda, desigualdade em relação à qualidade desse acesso. Segundo indicador de conectividade significativa criado pelo Cetic.br – que inclui fatores como custo e velocidade da conexão, presença de banda larga fixa nos domicílios e acesso por múltiplos dispositivos, entre outros –, apenas 22% dos indivíduos com 10 anos ou mais no Brasil têm condições satisfatórias de conectividade. Estão nessa situação 73% dos indivíduos da classe A, 33% dos habitantes da região Sul e 28% dos homens, mas apenas com 16% das mulheres, 11% dos que vivem no Nordeste, e 3% dos indivíduos das classes DE.

“O trabalho realizado pelo Cetic.br é de grande relevância para o acompanhamento da trajetória da inclusão digital no Brasil. São 20 anos de produção de indicadores por meio de metodologias robustas e confiáveis, que têm sido fundamentais para ajudar subsidiar políticas públicas de enfrentamento às desigualdades digitais no país”, destaca a coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Renata Mielli.

Perfil de uso: Internet pela TV e 99% de celulares

Os dados desta nova edição da TIC Domicílios apontam para um cenário geral de estabilidade dos indicadores, após os aumentos nos níveis de conectividade e de atividades online observados durante a pandemia de Covid-19. Uma tendência que vem se consolidando é a do acesso à Internet pelo televisor. O dispositivo é o segundo mais utilizado para esse fim, com 60%, atrás apenas do telefone celular (99%). Até 2019, o acesso pelo computador superava o pela TV (42% contra 37%), mas em 2024, o acesso pela televisão ficou 20 pontos percentuais acima do pelo computador (40%), a maior diferença histórica da série da pesquisa.

O estudo identificou, ainda, que 60% se conectam à rede pelo celular, mas não pelo computador, e 40% por ambos. Nas classes DE, as proporções foram de 86% e 13%, respectivamente. O acesso exclusivo por telefone celular também foi maior entre as mulheres (66%) do que entre os homens (54%) e entre pretos (56%) e pardos (66%) do que entre brancos (51%).

Dos brasileiros que possuem celular, mais da metade (57%) conta com plano pré-pago, 20% têm plano pós-pago e 18%, plano “controle”. Essa foi a primeira vez que se coletaram dados sobre este último tipo de plano, que possui características de ambas as modalidades anteriores.

Sobre a forma de conexão,73% dos que acessam a Internet via telefone celular o fazem tanto por Wi-Fi quanto pela rede móvel. Entre aqueles da classe A, essa proporção é de 95%, enquanto nas classes DE, a porcentagem está na casa dos 57% – outros 37% se conectaram exclusivamente por Wi-Fi e 6%, somente pela rede móvel.
 

Habilidades digitais e a ligação com a escolaridade

A TIC Domicílios 2024 identificou que habilidades digitais estão mais presentes entre pessoas com maior escolaridade. Enquanto 80% dos usuários de Internet com Ensino Superior afirmaram ter buscado verificar a veracidade de uma informação encontrada no ambiente digital, essa proporção foi de 31% entre aqueles com Ensino Fundamental. De maneira geral, essa prática foi realizada por 52% dos usuários.

Alterações de configurações de privacidade para limitar compartilhamento de dados foi reportada por 58% dos com Ensino Superior e 18% dos com Ensino Fundamental. Entre os que relataram não possuir nenhuma das habilidades digitais investigadas pela pesquisa, 51% tinham Ensino Fundamental e 8%, Ensino Superior.

“Apesar dos avanços em direção à universalização do acesso à Internet no Brasil, os dados da TIC Domicílios também mostram que a qualidade desse acesso ainda é desigual, o que tem impacto sobre o aproveitamento das oportunidades online por diferentes parcelas da população”, afirma Barbosa.

Governo 2.0: Os serviços públicos conectados

Serviços públicos online relacionados à saúde foram a ação realizada em maior proporção (32%) entre usuários de Internet com 16 anos ou mais nos doze meses anteriores à pesquisa. Serviços ligados ao pagamento de impostos e taxas foram os prevalentes entre usuários das classes A (66%) e B (59%), enquanto serviços online relacionados à educação pública (como Enem, Prouni, matrículas em escolas ou universidades públicas) foram realizados em maior proporção pelos usuários de 16 a 24 anos (42%).

Entre os usuários de Internet com ocupação formal, 46% haviam procurado ou usado algum serviço público vinculado a pagamento de impostos e taxas e 37%, algum serviço público ligado a direitos do trabalhador ou previdência social. Entre aqueles com ocupação informal, essas proporções foram de 26% e 20%, respectivamente. Essa foi a primeira vez que a pesquisa coletou informação sobre o tipo de ocupação dos indivíduos.
 

Comércio eletrônico: Crescimento, mas mais da metade não utiliza

Aplicado a cada dois anos, o módulo de comércio eletrônico revela que a prática de comprar online produtos e serviços, alavancada durante a pandemia, segue em um patamar mais elevado do que o verificado antes da crise sanitária. Segundo a TIC Domicílios, 73 milhões (46%) de usuários de Internet realizaram esse tipo de atividade em 2024, 6 milhões a mais do que em 2022 (67 milhões).

O estudo mostra também que o Pix superou o cartão de crédito (67%) como a forma de pagamento mais utilizada no ambiente digital, sendo citado por 84%; 18 pontos percentuais acima do observado em 2022 (66%). Os maiores aumentos no pagamento por Pix ocorreram entre as classes B (de 63% para 82%), C (de 68% para 86%) e DE (de 60% para 78%). Em contrapartida, a proporção dos que pagaram por boleto bancário passou de 43%, em 2022, para 24%, em 2024, uma diferença de 19 pontos percentuais.

“Neste ano, a pesquisa destaca o crescimento do Pix como forma de pagamento das compras realizadas pela Internet, puxado pelas classes sociais DE, com menor acesso ao cartão de crédito”.

Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.

Roupas, calçados e material esportivo (de 64%, em 2022; para 71%, em 2024) e cosméticos e produtos de higiene pessoal (de 34%, em 2022; para 41%, em 2024) foram as categorias de produtos com maior crescimento de compras online em relação a 2022. Também foi identificado aumento significativo no pagamento por serviços de músicas pela Internet, passando de 13% dos usuários de Internet, em 2022; para 19%, em 2024. O avanço foi maior entre usuários de 16 a 24 anos, cuja proporção passou de 15% para 32%, e entre usuários da classe B (de 22% para 41%).

Houve aumento, ainda, na proporção de usuários de Internet que adquiriram produtos ou serviços em sites de compra e venda (marketplaces), passando de 72% em 2022; para 90% em 2024. Aplicativos de lojas no telefone celular foram mencionados por 65% dos usuários que compraram online, enquanto 22% citaram ter comprado através de redes sociais. Por outro lado, 41% disseram ter visualizado anúncios de produtos ou serviços em posts de redes sociais, 49% em vídeos na Internet, e 49% em propagandas em sites ou aplicativos.

Vale dizer que, ao celebrar duas décadas, a TIC Domicílios não apenas apresenta um quadro detalhado da inclusão digital, mas ilumina desafios persistentes na qualidade e na equidade do acesso à Internet no Brasil. A pesquisa também destaca o potencial transformador da conectividade e reforça a importância de políticas inclusivas que democratizem, de fato, o universo digital.


Créditos: Imagem Destaque – PeopleImages.com – Yuri A / Shutterstock



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