Por Fábio M. Barreto
Amanhã Los Angeles vai parar por conta do maior evento cinematográfico do ano. Nada de blockbuster cheio de efeitos especiais ou grande elenco, apenas um nome: Michael Jackson. O Nokia Theater abre espaço para a pré-estréia VIP de “This is It”, documentário sobre a carreira do “Rei do Pop”. Teoricamente, é a última parada em grande estilo do astro desde a epopéia que envolveu sua morte, autópsias, homenagens e velório.
Nada de blockbuster cheio de efeitos especiais ou grande elenco, apenas um nome: Michael Jackson.
Enquanto os Estados Unidos se preparam para esse fenômeno, com ingressos esgotados há meses, os paulistanos – que também já podem comprar bilhetes para esse filme à venda em todo País – podem conferir outro documentário memorável na Mostra São Paulo de Cinema. O filme é “A Todo Volume”, dirigido por David Guggenhein e estrelado por Jimmy Page (Led Zepellin), The Edge (U2) e Jack White (White Stripes e The Racoonteers). É uma obra-prima da música, fugindo da auto-idolatria e acompanhando a trajetória de três grandes guitarristas, cada um representando uma época (embora tal escolha não tenha sido intencional) e estilos diferentes.
Longe da apoteose dos grandes concertos ou do discurso suntuoso dos guitarristas virtuosos, “A Todo Volume” tem proposta simples: explicar a importância da guitarra e dos homens que fizeram dela instrumento de idolatria na música. Seu início é igualmente simples, com Jack White construindo uma guitarra rudimentar numa casa de fazenda, utilizando materiais comuns e gerando música. Jack assume um lado mais ficcional, ao ensinar seu “eu” criança a adorar música, mas é com Jimmy Page que o filme decola e se faz memorável.
O guitarrista do Led Zepellin recupera as origens do rock progressivo, suas origens como músico de estúdio e os primórdios da banda, sempre pontuando sua relação com o instrumento. É um passeio pela mente de um gênio e uma rara oportunidade de presenciar tamanho talento em película. Já The Edge é o arquiteto musical. Um cientista do som. Criando os riffs de sucesso do U2 num pequeno estúdio em Dublin. A mescla é perfeita.
Guggenhein escolheu os músicos baseado em sua preferência pessoal. Fez o certo, afinal, sua paixão se traduz em ótimas escolhas de assuntos abordados e, claro, set list. Ele é o devoto, cujos olhos guiarão o espectador durante a costura fina que une as três histórias de “A Todo Volume”. Ciente da importância de seus homenageados, o diretor deixou que a história se escrevesse. Primeiro gravou extensas conversas em áudio com cada um dos guitarristas e, a partir daí, criou seu roteiro de filmagens, locações e ângulos para as conversas.
Resta pouca dúvida sobre esse ser o melhor documentário musical dos últimos 20 anos e, claramente, posicionar-se entre os melhores da história. Nada de conflitos e lutas por poder dentro de uma banda ou histórias de ascensão e queda. São três guitarristas contando sua relação com o instrumento e tocando. Momentos simples, mas icônicos, marcam “A Todo Volume”. Quando Jimmy Page puxa um banjo e dedilha o comecinho de “The Battle for Evermore”. The Edge demostrando, com humor e orgulho, a diferença básica entre um violão e uma guitarra elétrica; ou até o exibicionismo criativo de Jack White, capaz de escrever uma música e tocá-la em frente das câmeras, em questão de minutos.
Tanto talento reunido leva ao inevitável desfecho, durante encontro num estúdio em Los Angeles. Acompanhados por suas guitarras prediletas, eles conversam e tocam. O resultado é mágico, musical e cinematograficamente. É o fechamento de um ciclo iniciado na primeira cena. Jack White diz: “quem disse que você precisa de uma guitarra cara para fazer boa música?”. Quando esses três se reúnem, essa verdade se torna incontestável. Talento é tudo.
Fábio M. Barreto é jornalista e correspondente brasileiro em Los Angeles. Além de trabalhar para as revistas Sci-Fi News, Movie e Atrevida, edita o site SOS Hollywood e concorre ao Prêmio PodCast 2009 com seu podcast, o SOSCast.