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High School Musical – Preconceito contra uma obra-prima às avessas

Por Carlos Proença

High School Musical: O Desafio é o caso clássico daquele filme a ser pré-visto com antipatia. Isso, claro, por ser adaptação da insípida franquia infanto-juvenil – apesar de sucesso impressionante – produzida pela Disney Channel e que lançou um dos “jovens galãs” mais inexpressivos da história do cinema: Zac Efron.

Uma versão nacional, portanto, tem mais cara de caça-níquel do que propriamente um filme. Ainda mais quando sabemos que esta é a terceira empreitada da companhia em solo latino-americano utilizando-se da grife HSM (México e Argentina já foram contempladas com as suas, ambas intituladas High School Musical: El Desafío).

Aqui, mais do mesmo: elenco novato escolhido em programa de televisão, músicas de gosto duvidoso e coreografias estapafúrdias. O musical brasileiro, claro, teve alterações para torná-lo mais palatável, como o protagonista ser jogador de futebol, e não de basquete como no original. Além disso, o samba, o olodum e um deslocado reggaeton ganham vez na trilha sonora. Vale lembrar também que Wanessa Camargo participa do filme, algo que – teoricamente – confirmaria o seu “inevitável sucesso”.

É evidente que a fórmula não é nem um pouco infalível, tanto que em seus primeiros dias de exibição, HSM: O Desafio teve resultado aquém das expectativas. Outras tentativas do mercado cinematográfico nacional no mesmo âmbito já caíram por terra anteriormente – o último caso parecido sendo Um Show de Verão.

Nada surpreende até então. E o normal é que qualquer pessoa que já não tem mais tantas espinhas assim na cara nem pensará em assistir ao filme. Mas quem seguir esse princípio, não sabe o que está perdendo. No primeiro trimestre deste ano, certamente um dos programas mais divertidos a se fazer é comprar um pipocão e se deleitar nessa obra-prima.

O espectador que melhor aproveita o espetáculo HSM é o com senso de humor. A qualidade é primordial para reconhecer os signos do tipo humorístico mais subjugado de todos: o humor involuntário.

As situações no filme são tão amorfas, deslocadas e de uma ingenuidade tão barata, que é impossível não rir do começo ao fim em cada um dos números musicais. O valor da adaptação brasileira – assim como também parece ser pelo que vi da argentina e da mexicana – não está no aspecto afirmativo da sua existência, ou seja, na auto-validação como projeto artístico. A jóia incrustada é justamente todo o estranhamento que a realização de tal obra produz em solo nacional. Neste sentido, toda a qualidade canhestra de música, dança e atores somente potencializa o nosso sentimento de: Puta que pariu, isso é hilário!

“… as partes mais insossas são aquelas com a estrelinha Wanessa Camargo.”

E aqui entra uma questão preponderante para a simpatia ao spin-off: o fato de ser um musical e de ter rostos desconhecidos do grande público possibilita que nossa interação com a tela se manifeste de forma mais plena. Não é de se espantar, portanto, que as partes mais insossas são aquelas com a estrelinha Wanessa Camargo. O espectador do século XXI, criado sobre a ditadura do regime das imagens possui inconsciente tendência a rejeitar todo o lixo cultural produzido e que chega aos meios de comunicação – sobretudo a TV – com estrondoso sucesso. Daí um filme da Xuxa não agradar tanto nesse aspecto.

Assim, HSM: O Desafio é paradoxal em sua própria existência. Mesmo que requentando o sucesso da Disney, a tentativa de emulação através das adaptações óbvias para aceitação em território nacional desperta um senso crítico – no sentido de localizar o tosco – tamanho no espectador que a reação natural não é a raiva nem o desprezo, mas simplesmente a gargalhada. Às avessas, mas obra-prima.

Carlos Proença é graduando em cinema na UFF e colaborador de cinema no Com limão.

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