“Pantera Negra” é, sem sombra de dúvidas, o filme mais sério, representativo e político do universo de super-heróis da Disney. O Com limão foi assistir à nova produção da Marvel Studios e, no texto de hoje, explicamos detalhes – sem spoilers – da importância dela para a cinematografia mundial.
Olhando superficialmente, a sinopse do primeiro filme solo do Pantera parece simples e sem sal. Acompanhamos T’Challa (interpretado por Chadwick Boseman) que, após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, volta para casa na isolada e tecnologicamente avançada nação africana para a sucessão ao trono. No entanto, um velho inimigo reaparece e o valor de T’Challa como rei e Pantera Negra é testado, levando a um conflito que coloca o destino de Wakanda e do mundo todo em risco.
Confrontado pela traição e o perigo, o jovem rei precisar reunir seus aliados e liberar todo o poder do Pantera Negra para derrotar seus inimigos e assegurar a segurança de seu povo e de seu modo de viver. Mais do mesmo, certo? Errado e vou explicar o porquê.
Comecemos por um detalhe que não está na sinopse, mas que expressa toda a representatividade que o filme possui: Todo elenco é composto por atores negros. Entre eles estão Lupita Nyong’o (primeira atriz queniana a ganhar um Oscar), Danai Gurira (conhecida pelo papel de Michonne, na série “The Walking Dead”), o veterano Forest Whitaker (ganhador do Oscar de melhor ator em 2007), Michael B. Jordan (Quarteto Fantástico e Creed), entre outros. As exceções ficam por conta de Andy Serkis e Martin Freeman. Já Chadwick Boseman merece um comentário à parte. Assim como Robert Downey Jr. e Hugh Jackman deram vida, respectivamente, ao Homem de Ferro e Wolverine, Boseman é a perfeita personificação do personagem dos quadrinhos. O ator, nascido na Carolina do Sul, incluiu até um sotaque específico para o personagem, detalhe incorporado por todo elenco posteriormente.
Alguns podem dizer que Boseman não é o primeiro super-herói negro, afinal, já tivemos Wesley Snipes na pele do caçador de vampiros Blade (também personagem da Marvel), mas nenhum dos três filmes do herói possuía um elenco tão representativo como em Pantera Negra. Também não lembro de nenhum personagem de “Blade” falando “me jogue no oceano, assim como meus antepassados, que preferiam se jogar dos barcos, ao invés de viver a vida preso”, numa clara alusão à escravidão dos antigos africanos.
Aliás, África é outro tema interessante de “Pantera Negra”. Em determinado momento do filme, um membro da ONU (sem saber que Wakanda é uma “El Dorado” africana) responde T’Challa com a seguinte pergunta: “O que um país de fazendeiros têm para nos oferecer?”. Podemos dizer que a fictícia Wakanda é uma analogia ao pré-conceito europeu (ou americano) pela África, ou seja, que o continente não passa de um punhado de países de terceiro mundo e não existe nada além de pobreza. A disputa pelo trono e os 30 anos de reinado de T’Chaka – pai de T’Challa, o Pantera atual – também tem um quê de política tribal misturado com ditaduras africanas.
Outras discussões, como o radicalismo e ultra protecionismo de Wakanda, são pertinentes e atuais, refletindo uma realidade presente nos países de primeiro mundo. Até mesmo a questão de refugiados e sua presença é uma discussão em Pantera Negra. Quando questionado se deveria abrir as fronteiras do país fictício para outros africanos, um personagem de Wakanda avisa o rei: “Eles nunca serão cidadãos de Wakanda, são refugiados”. É difícil comentar profundamente esta questão sem dar spoilers, por isso, minha sugestão é que assista ao filme e deixe seus comentário no fim do texto.
Por fim, mas não menos importante, Wakanda e o Pantera mostram ao mundo o papel da mulher na sociedade e nos filmes de super-heróis. Dora Milaje, a guarda real de Wakanda, é composta unicamente por mulheres. Sua general, Okoye (Danai Gurira), é uma mulher de convicções fortes, patriota e apaixonada pelo dever. Já Nakia (Lupita Nyong’o) é uma espécie de espiã de Wakanda. Completa esse time, Ramonda, a Rainha-Mãe (Angela Bassett), que assume o papel de conselheira do rei Pantera e Shuri (Letitia Wright), irmã de T’Challa e princesa de Wakanda, responsável pelas tecnologias bélicas do Pantera. Um ponto interessante é a relação entre Shuri e T’Challa, a irmã do herói chega a dar uma de “Q do 007”, personagem responsável pelas engenhocas tecnológicas do espião britânico.
Em resumo, ao contrário do que foi visto nos outros filmes da Marvel, que, mesmo tendo personagens femininas como Viúva Negra, Gamora e tanta outras, a mulher não passava de uma “alegoria cinematográfica” (hiper sexualizada, como a Viúva, ou guerreira estereotipada, como Gamora), em “Pantera Negra”, a mulher é – por mais gasta que esteja esta palavra, não acho melhor definição – empoderada. Seja no campo étnico ou de gênero, “Pantera Negra” tem uma palavra que permeia todo enredo: igualdade.