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Robôs e futuro – Parte 2: Um panorama histórico

Robôs E Futuro - Parte 2: Um Panorama Histórico

Se voltarmos para o início da primeira Revolução Industrial, no final do século XVIII, algo muito parecido aconteceu com o que pode ser nosso futuro. Os teares mecânicos e as máquinas de fazer sapatos foram introduzidas no processo produtivo à custa de muitos artesãos especializados na produção de vestuário. Por um bom tempo, os salários reais de uma classe que já podíamos chamar de trabalhadores caiu fortemente e o desemprego, que é a outra face da mesma moeda, aumentou bastante. A história de Oliver Twist, do escritor inglês Charles Dickens, retrata bem as péssimas condições em que as pessoas viviam na Inglaterra que passava pela revolução.  

O primeiro efeito desse rápido avanço tecnológico foi, portanto, o de substituir uma mão de obra especializada para, em uma segunda etapa, a partir dos elevados efeitos de produtividade, da criação de novas indústrias, complementar a atividade laboral. Essa nova realidade criou incentivos para a migração de trabalhadores do campo para as cidades e a sindicalização da mão de obra, Dessa segunda etapa, no fim do século XIX, até o pós-guerra, o desenvolvimento tecnológico do capital produtivo trouxe ganhos de produtividade para o trabalhador sem precedentes na história humana, o que também gerou forte crescimento dos salários reais. Nos Estados Unidos, esse crescimento chegou a uma média de 2% ao ano por boa parte do período. Pode parecer pouco, mas um crescimento real de 2% ao ano fez com que a renda do trabalhador dobrasse a cada 34 anos aproximadamente. Esse fenômeno de produtividade beneficiou de forma mais ou menos uniforme os trabalhadores, independentemente das suas qualificações.

Confira a primeira parte do texto: Robôs e futuro – Parte 1: Afinal, a tecnologia já enterrou o trabalho?

Essa história de complementaridade começou a mudar mesmo por volta das décadas de 70 e 80, com a revolução das tecnologias de informação e comunicação, basicamente os computadores, que voltaram a substituir a mão de obra. No entanto, essa substituição chegou apenas para ocupações de relativamente baixa qualificação, como os datilógrafos, ao mesmo tempo em que reforçou a complementaridade para ocupações de mais alta qualificação, como analistas e gerentes.

Nas décadas de 90 e 2000, essa característica substitutiva da tecnologia migrou para as ocupações de qualificações medianas e, por conta da transferência de plantas produtivas para países em desenvolvimento (offshoring), os trabalhos de baixa qualificação voltaram a ser mais demandados e os trabalhos de alta qualificação continuaram a ser fortemente procurados pelas empresas.

A partir dos anos 2010, com a revolução dos sensores e do Big Data, o escopo para a substituição do trabalho tem aumentado rapidamente, o que tem feito com que até mesmo a profissões de mais alta qualificação entrem na lista de ocupações ameaçadas. Como dissemos no podcast do Inovasocial, se por trás da sua ocupação existe um conjunto de tarefas previsíveis e que podem ser descritas por regras e etapas objetivas, existe aí grande chance de que um robô a desempenhe no futuro.

Saiba mais sobre o autor convidado: Derick Almeida é economista, doutorando em Economia e investigador contratado do Centro de Pesquisa em Gestão e Economia (CeBER) da Universidade de Coimbra, em Portugal. Atualmente desenvolve sua tese na área de Crescimento Econômico e suas relações com a Inteligência Artificial.

Imagem Destaque: Por Everett Historical/Shutterstock

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