Nos últimos meses entrei na onda das criptomoedas. Já venho acompanhando o cenário há muito tempo, mas sempre tive receio de uma bolha e, como investidor, sempre fui muito conservador. Pensar que 1 Bitcoin vale R$ 325 mil ainda é algo muito surreal para mim. De qualquer forma, entrei para experimentar a onda dos NFTs (tokens não fungíveis) e comprei Ether (ETH), o blockchain da Ethereum.
Um pouco diferente do Bitcoin, o Ether tem sido utilizado em games, NFTs e serviços financeiros descentralizados. Além disso, sua cotação está longe dos R$ 325 mil, apesar de já atingir mais de R$ 10 mil, e isso acaba facilitando a compra. Afinal, nem todo mundo é milionário. A questão é que, desde o dia 31 de março, o Ether vem valorizando em um ritmo acelerado e isso fez com que, na última segunda-feira (05), as criptomoedas atingissem mais de US$ 2 trilhões em valor de mercado. Ou seja, a bolha não estourou e parece estar longe disso acontecer.
O potencial da Ether é maior do que o Bitcoin?
Apesar do Bitcoin ser a maior e representar mais de 50% de toda a capitalização de mercado das criptomoedas, ele se tornou muito cara antes mesmo de entrar no mainstream, ou seja, no entendimento do público geral. Por isso, é muito difícil criar soluções baseadas na moeda. É aí que entram as alt coins, ou moedas alternativas. O Ether talvez seja a maior delas, mas existe uma infinidade.
O potencial do Ether é que, enquanto o Bitcoin entrou desbravando o mercado, o blockchain da Ethereum veio logo atrás. Não tão perto para ter que “arrancar o mato” do mercado virgem, mas não tão longe para encontrar um terreno já ocupado. Além disso, a moeda virou a queridinha dos tokens não fungíveis. E o que aconteceu com os NFTs recentemente? Mídia e mais mídia. Blogs explicando o que são NFTs, matéria nos principais jornais e todo mundo querendo saber como vender algo de tokenizado.
Leia também: Robôs e futuro – Parte 1: Afinal, a tecnologia já enterrou o trabalho?
Oras, além de acertar o timing, ainda ganhou milhares em mídia gratuita indiretamente. Além disso, o Ether é visto como uma solução essencial para os chamados aplicativos de finanças descentralizadas (DeFi). É uma junção de fatores que devem impulsionar cada vez mais este blockchain.
Isso quer dizer que o Bitcoin é a criptomoeda do passado? Longe disso, ela só é a criptomoeda de quem realmente tem dinheiro. Em março, o banco Morgan Stanley se tornou o primeiro banco dos EUA a oferecer gestão de fortunas com acesso a fundos Bitcoin. Soma a este fato a Goldman Sachs também ter anunciado soluções de investimentos em criptomoedas para gestão de fortunas privadas.
2021: Ano das criptomoedas
No passado, o setor de criptomoedas era percebido na Califórnia e na Ásia como um brinquedo de nerds. Isso mudou radicalmente em 2017, quando a Securities and Exchange Commission (SEC), equivalente americana à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil, definiu que a emissão de moeda teria que ser regulamentada, ou seria fraude. Essa regulamentação ajudou a trazer de volta os investidores que tinham entrado no início, incluindo os fundos de endowments de universidades americanas e grandes companhias, além dos bancos e demais empresas do setor financeiro. “O Fidelity, gigante do varejo americano, dá mostras dessa confiança: acaba de entrar na SEC com um novo fundo negociado em bolsa Bitcoin”, lembra David Lawant, pesquisador junto ao Bitwise Asset Management.
Quando a internet surgiu, muitos não acreditavam na eficiência desse veículo, lembrou Alex Nascimento, professor de Blockchain na Universidade da Califórnia em Los Angeles – UCLA, durante o painel “A ascensão das criptomoedas no mercado financeiro” (veja abaixo), discussão que foi parte do evento “The Future of Money”, realizado pela Revista Exame. “A bolha que afetou as empresas ponto-com no início dos anos 2000 não acabou com a internet.” Para ele, o segmento das criptomoedas também terá ajustes e eles estão ocorrendo, ideia compartilhada por André Portilho, responsável pela área de ativos digitais no banco BTG Pactual.
Para o setor, as perspectivas são positivas; as regulamentações estão sendo feitas, a tecnologia está avançando e as empresas estão se posicionando no uso de criptomoedas para operações de compras e pagamentos. Movimentos como o do PayPal, que recentemente liberou seus usuários para fazer compras com criptomoedas, a Tesla aceitando bitcoins como meio de pagamentos por seus carros elétricos, mostram que as mudanças de paradigma estão ocorrendo.