O mercado de criptomoedas ainda é um mundo inexplorado por muita gente. À medida que as criptomoedas ganham cada vez mais adoção, a demanda por transações entre cadeias de blockchain cresce intensamente, com termos como “o mundo multi-cadeia” ganhando espaço entre os usuários e organizações. Estima-se que o TVL (Valor Total Bloqueado, medida da quantidade de valor em staking ou pools de liquidez de projetos de finanças descentralizadas) nos principais protocolos de pontes de Ethereum aumentou mais de 120%; indo de US$ 137 bilhões para US$ 302 bilhões, entre maio e outubro de 2021.
A pesquisa “Em busca da interoperabilidade: um panorama do mercado de cadeia cruzada”, realizada pela Crypto.com, aponta que há soluções em desenvolvimento para permitir o compartilhamento de informações, como tokens, contratos inteligentes e outras formas de armazenamento de dados, entre as blockchains (interoperabilidade) que podem liberar mais de US$ 28 bilhões.
Embora as blockchains ainda sejam consideradas uma tecnologia nova, milhares de blockchains públicas e privadas já existem hoje, mas muitas delas, no entanto, estão isoladas com diferentes infraestruturas tecnológicas, regras e modelos de governança. Uma transferência direta de Bitcoin para o blockchain Ethereum, para tirar proveito de seus aplicativos DeFi ou Ether, ou para um novo blockchain promissor, como Terra ou Avalanche, é impossível devido a tecnologias incompatíveis e padrões de token. A falta de interoperabilidade é um problema crescente e em evolução. No entanto, a conexão é chave para uma rede blockchain descentralizada e fundamental para o caminho da Web 3.0.
Ouça abaixo o nosso podcast “Blockchain, DeFi e os impactos sociais das novas tecnologias”, publicado no Inovasocial
As soluções de cadeia cruzada tem sido agrupadas em duas taxonomias diferentes. Por finalidade: ativo específico, cadeia específica, aplicação específica, pontes generalizadas de “Internet de Blockchains”; e pelo seu método de validação (verificado externamente, verificado nativamente e verificado localmente). A segunda se baseia em dados de TVL para pontes conectadas à rede Ethereum, pontes históricas que conectam a parte do leão (90-95%) das criptomoedas desde abril de 2021. Pontes de aplicação específica tem ganho popularidade entre os usuários, ligando 27% do TVL no Ethereum em outubro, com uma valorização de quatro vezes no período de um mês.
Cosmos, Polkadot e Avalanche
Entre os destaques de soluções de blockchain mais abrangentes estão a da Cosmos, Polkadot (já falamos sobre ela e seu pontencial no texto “NFT, Polkadot, tokens e eleições: As tendências do universo blockchain em 2022“) e da Avalanche, que surgiram para resolver a falta de interoperabilidade em um menor nível de infraestrutura e introduzir escalabilidade onde simples pontes não conseguem realizar. O crescimento da adesão dessas soluções também se refletem nas mudanças de seus valores de mercado. A capitalização de mercado de suas moedas nativas, o ATOM, da Cosmos; o DOT, da Polkadot; e o AVAX, da Avalanche, aumentaram 130%, 31% e 270%, respectivamente, de maio a outubro de 2021.
Nesse movimento, novas blockchains de contratos inteligentes, como Avalanche, Terra e Binance Smart Chain (BSC) estão gradualmente frustrando o monopólio da Ethereum, cuja participação de mercado do Ethereum reduziu de 98% em janeiro para 66% em outubro de 2021. O BSC apresentou o maior TVL com US$13,7 bilhões, seguido por Polygon, Avalanche, Fantom Anyswap e Arbitrum no final de outubro do ano passado.
O mercado parece se aproximar de um futuro multi-cadeia com as soluções de ponte e cross-chain facilitando transferências mais rápidas entre blockchains onde antes eram isolados. Em segundo lugar, a participação absoluta do mercado DeFi está crescendo à medida que a criptomoeda recebe cada vez mais atenção de grandes investidores. Em termos de TVL, o mercado DeFi cresceu de US$10,5 bilhões em outubro de 2020 para surpreendentes US$93 bilhões em outubro de 2021. Com base nos dados do Dune Analytics, o detalhamento das pontes Ethereum mostra ao longo do tempo uma liderança clara da ponte BSC, seguida pela Polygon.
Por que a interoperabilidade das redes blockchain é fundamental?
“A interoperabilidade desbloqueia a inovação. À medida que os ecossistemas individuais crescem, eles desenvolvem seus próprios pontos fortes, como maior segurança, velocidade de rede mais rápida, custos de transação mais baixos, privacidade aprimorada e comunidades exclusivas. As pontes são importantes conexões porque permitem que os usuários acessem novas plataformas, protocolos para interoperar e desenvolvedores para construir novos produtos em conjunto”, comentou o Head de Growth da Crypto.com na América Latina, Marc Lebreton.
Lebreton explia que, em primeiro lugar, a interoperabilidade melhora a produtividade e a eficiência de capital para ativos cripto existentes. As pontes permitem que os ativos de dados sejam transferidos para diferentes redes blockchain, em vez de ficarem isoladas em seus ecossistemas nativos. Por exemplo, a ponte Avalanche-Ethereum permite que os usuários enviem Ethereum para o ecossistema blockchain de Avalanche para staking ou para gerar rendimentos. Em segundo lugar, a interoperabilidade abre as portas aos desenvolvedores para um maior público-alvo com incentivo para aumentar o alcance de seus produtos, desenvolvimento de novas funções, recursos e a extensão do uso e design para diferentes blockchains.
“Finalmente, a interoperabilidade estimula a inovação em direção à descentralização da tecnologia. Muitos usuários de cripto ainda dependem de entidades centralizadas para transferir ou converter seus ativos entre os ecossistemas. Enquanto isso é inevitável devido ao estágio de desenvolvimento do cripto e da blockchain, é preciso prosseguir avançando com a tecnologia para aumentar a estrutura de compartilhamento entre as blockchains para uma constante evolução”, afirmou Lebreton.
O mundo atualmente fragmentado das criptomoedas está reduzindo gradualmente os obstáculos entre blockchains e tornando-se em uma rede unificada e eco sistema interoperável. Um número crescente de soluções de cadeia cruzada está levando a fronteira de infraestrutura e impulsionando essa mudança.
À medida em que se avança a um futuro multi-cadeia, alguns sinais devem ser acompanhados de perto como: a diminuição de participação de mercado DeFi do Ethereum pode indicar que os blockchains estão se tornando mais integrados, devido a um número maior de blockchains de contrato inteligente com alto TVL entrando na disputa e atraindo capital com rendimentos mais atraentes. Em segundo lugar, todos os olhos estão voltados para grandes projetos de ‘Internet de Blockchains’, como o Cosmos, Polkadot e Avalanche. Observando o TVL e o número de projetos lançados nestas plataformas, pode-se ter uma boa compreensão sobre o progresso das atividades em um nível mais infra-estrutural.
Imagem Destaque: Inspiration GP/Shutterstock