Por que as cores têm os nomes que têm? E por que algumas não têm nenhum?
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Por que as cores têm os nomes que têm? E por que algumas não têm nenhum?

Particularmente, eu sempre achei as cores um mistério à parte. Afinal, será que o mesmo vermelho que eu vejo, é o que você também vê? O mais intrigante sobre essa pergunta é que ela talvez nunca possa ser respondida, uma vez que não há como experienciar os sentidos de outra pessoa, como seria o caso da visão aqui.

Ainda assim, as cores revelam bastante sobre o nosso comportamento e formas de pensar, de um modo geral.

No vídeo chamado “The surprising pattern behind color names around the world”, ou, “O padrão surpreendente por trás dos nomes de cores ao redor do mundo”, da Vox Media, somos convidados a refletir sobre a misteriosa sequência na qual as cores, em diversas regiões do planeta, costumam ser nomeadas.

Conforme explica o vídeo, a depender do número de cores básicas definidas por um idioma (o português mesmo, tem onze), é possível não só estabelecer um padrão acerca de quais cores foram nomeadas primeiro, bem como, no caso daqueles que possuem apenas três ou quatro cores básicas, é possível prever quais são.

Cores básicas?” – Como assim?

Veja, no mundo real, diferentemente das telas, a variedade de cores que vemos com nossos olhos não é definida por uma junção do vermelho, verde e azul (padrão RGB). Na verdade, as cores correspondem a diferentes faixas do espectro eletromagnético, do qual um pequeno intervalo é visível aos olhos.

Sendo assim, já te ocorreu de perguntar por que temos nomes próprios para algumas cores e para outras não? Do violeta ao vermelho, há uma infinidade de tons. Apesar disso, temos nomes apenas para pontos muito específicos do espectro.

No português, e na maioria das línguas latinas, como disse, o mais comum é ter onze: azul, vermelho, verde, amarelo, laranja, rosa, marrom, preto, branco, cinza e roxo. Já o russo, por exemplo, tem doze: os onze que citei acima, além de um azul-claro de tom bem específico, similar à neve.

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Por exemplo, viu como, para me referir ao azul-claro, eu acabei usando uma cor “básica” e depois adicionei um termo – “claro” – que especifica de que tom eu estou falando? Pois bem, os russos não precisam disso. Pra eles, azul claro e azul escuro são tão diferentes que tem nomes próprios e distintos há muito tempo.

E não se engane: o contrário também se verifica. No Japão antigo, e em algumas outras culturas, verde e azul eram consideradas tonalidades de uma mesma cor, a ponto do idioma ter apenas um nome para as duas (Aoi – 青い).

Hoje, no entanto, já há distinção entre o “aoi”, que pode ser considerado o azul visto no céu diurno, e o “midori”, que descreve o verde brilhante de um gramado.

Certo, mas e o vídeo?

Voltando ao objeto principal da nossa análise, o vídeo da Vox Media, o narrador conta que, intrigados por questões como essas, em 1969, os pesquisadores Paul Kay e Brent Berlin decidiram desenvolver o que depois se tornou a “Teoria Básica da Terminologia de Cores”.

Noutras palavras, eles decidiram investigar se havia algum padrão na forma como diferentes sociedades nomeiam as cores, tudo isso levando em conta os aspectos geográficos, históricos, antropológicos e de desenvolvimento tecnológico de cada uma.

Para começar, ambos convidaram vinte pessoas, todas falantes de mais de um idioma, para indicar os termos básicos que cada língua tinha para as cores. Ao final do experimento, Paul e Brent foram surpreendidos por um padrão interessante:

  • Se o idioma tivesse seis cores básicas, por exemplo, era muito provável que essas cores fossem branco, preto, vermelho, amarelo, verde e azul;
  • Mas se tivesse quatro cores básicas, o padrão era que fossem branco, preto, vermelho, amarelo e verde;
  • Por fim, se o idioma só tivesse três cores básicas, era certo que seriam branco, preto e vermelho.

Eu sei que pode parecer estranho ter nomes para apenas três ou quatro cores. Mas a refletir sobre essa questão também ajuda a entender onde Paul e Brent queriam chegar. Afinal, cores só existem porque damos nomes a elas – lembra do espectro?

A questão, portanto, é entender por que alguns intervalos desse espectro recebem nomes e outros não. Por que não temos um nome específico para o vermelho escuro que se assemelha ao vinho, por exemplo?

Aqui, você pode até dizer que “vinho” é um nome, mas não há como negar que, ao menos na sociedade ocidental, o vinho é considerado uma variação do vermelho, e não o contrário. Por quê? Essa é a pergunta.

Voltando ao experimento dos dois pesquisadores, além de terem notado esse padrão acerca de quais cores recebiam nomes e quais não, ambos também puderam traçar um padrão de desenvolvimento da terminologia das cores.

Na prática, eles conseguiram estimar, a partir dos sistemas mais simples até os mais complexos, quais cores receberam nomes primeiro.

Quase sempre, o padrão de nomeação das cores era: branco, preto, vermelho, amarelo, verde (ou amarelo e verde como uma cor só), azul, marrom, laranja, roxo, cinza e rosa. Nesta ordem.

Cor é subjetividade

Se você leu até aqui, é possível que esteja se perguntando o que há de tão surpreendente nisso. Como algo tão ordinário quanto os nomes que damos às cores poderia ser objeto de um estudo tão profundo – e cujas descobertas são re-experimentadas até hoje.

Pois bem, talvez o primeiro parágrafo deste texto responda à pergunta. Digo isso porque não há nada mais subjetivo que a cor. Afinal, mais uma vez: não é possível garantir que eu vejo o mesmo tom de azul que você ao olhar o céu, por exemplo.

O máximo que podemos concluir é que a maioria de todos nós consegue distinguir uma certa variedade de cores. Isso fica claro quando observamos os daltônicos, nos quais o diagnóstico do daltonismo é feito com base na incapacidade do indivíduo em diferenciar cores que, para a maioria das pessoas, é totalmente diferente. Um exemplo é o verde e o vermelho.

Pois bem, se cores são exemplo de uma percepção bastante subjetiva do mundo, descobrir padrões acerca de sua nomeação dificilmente interessaria apenas às artes, mas também ao entendimento da psiquê humana. E Paul e Brent estavam atrás disso.

Após revelarem suas impressões iniciais, conforme o vídeo destaca, ambos os pesquisadores foram bastante criticados pela metodologia utilizada nos experimentos.

Primeiramente, muitos alegavam que a amostragem utilizada no experimento foi pequena. Para eles, apenas vinte indivíduos bilíngues (falantes de inglês e outro idioma), todos oriundos de sociedades industrializadas, não seria suficiente para um um estudo com propósitos tão profundos.

Anos mais tarde (final da década de 1970), fazendo o que cientistas fazem de melhor, Paul e Brent refinaram sua pesquisa, dessa vez reaplicando o questionário a mais de 2.600 falantes nativos, de 110 idiomas sem escrita desenvolvida. Todos, vale ressaltar, de sociedades não-industrializadas.

O objetivo era evitar que, conforme apontaram as críticas ao experimento anterior, a influência de um mundo interconectado acabasse alterando as respostas dos participantes. Pois bem, não é que, mesmo assim, 83% dos idiomas testados batiam com a teoria proposta pelos dois cientistas?

Em seguida, ambos propuseram uma espécie de “mapa de calor” do espectro da luz visível, pedindo aos participantes que indicassem em quais pontos do gradiente de cores encontravam-se os tons que melhor se encaixavam na descrição de cada cor.

Uma vez que fizeram isso, outro padrão interessante foi revelado: a maioria dos idiomas que detinham a mesma quantidade de “cores básicas” acabava nomeando as mesmas cores, exatamente como foi apontado no experimento anterior.

Mas, por que algumas cores são nomeadas antes de outras?

No primeiro e segundo experimentos, Paul e Brent concluíram que há um padrão na sequência em que são nomeadas as cores, mas eles não tentaram explicar os motivos que levaram certos tons a receberem nomes e outros não, tampouco os motivos por trás dessa ordem no processo de nomeação.

Nesse sentido, a resposta só foi efetivamente dada em 2009, quando o experimento foi revisitado mais uma vez. Aqui, a hipótese era de que o ambiente influenciava em quais cores recebiam nomes. E mais uma vez, o reconhecimento de padrões, característico do cérebro, exerceu uma grande influência.

Segundo o estudo, o mais provável é que, antes de receberem nomes próprios, as cores, assim como as próprias palavras, em linguagens primitivas, faziam referência a coisas do mundo real. O amarelo, portanto, era “a cor do sol”, ainda que não tivesse nome próprio. Já o azul, por sua vez, poderia muito bem ser descrito como a cor do céu ou a cor do mar, já que dificilmente era visto em outras partes da natureza.

Por outro lado, a noção de claro e escuro é fundamental para a comunicação. Da mesma forma, o vermelho é uma cor que está presente no sangue, nas frutas, e em diversos animais.

Ou seja, é uma cor que se destaca entre elementos mais abundantes da natureza, como a grama ou o céu, mas, ao mesmo tempo, se faz presente em coisas diversas o suficiente para não caber numa designação simplista, como “cor de maçã” ou “cor de tomate”. Intrigante, não é?

Ao final, se considerarmos que as cores “só existem na nossa cabeça”, o estudo de padrões na nomeação das cores se torna ainda mais curioso, isso porque ele não revela uma propriedade comum entre os tons em si, mas uma propriedade comum na forma como os seres humanos, ainda que separados por barreiras históricas, geográficas, sociais e tecnológicas, percebem o mundo.

Até a próxima e, claro, assista ao vídeo a seguir. Há legendas, caso precise.

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