Design

Você sabe o que é ser designer?

Antes de tudo, quero dizer que este texto não possui qualquer base científica e foi escrito de acordo com a minha experiência de vida. Pode parecer que estou jogando…

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Antes de tudo, quero dizer que este texto não possui qualquer base científica e foi escrito de acordo com a minha experiência de vida. Pode parecer que estou jogando confete no meu currículo, mas leia até o fim e você entenderá. Você foi avisado, agora vamos nessa!

Comecei no design há mais de uma década. Não faço parte do grupo que diz “na minha época, nós chamávamos de desenho industrial”, mas também não faço parte daqueles que possuem amplo acesso ao conteúdo multimídia, com vários livros, blogs, grupos e discussões sobre design. Nasci profissionalmente em um momento de transição. Livros eram caríssimos (ainda são) e quase não se falava em design na internet. O mundo virtual era resumido aos winks do MSN e comunidades do Orkut. Mais ao fim da graduação, surgiu um tal de Second Life, mas acho que só eu e mais meia dúzia de geeks andaram por lá. Não foi só isso, fiz parte da primeira turma de design de uma conceituada escola de… publicidade! Os aspirantes a Washington Olivetto nos chamavam de duendes. Éramos apenas 22 alunos, por isso, eles diziam “designers até podem existir, mas nunca vi um”.

Nunca me contentei em apenas fazer logotipos, cartazes ou websites. Percebia que o design era muito maior que isso. Talvez essa inquietude era fruto das intensas provocações dos fantásticos professores que tive (realmente tive aula com algumas lendas e isso custou o valor de um rim. Felizmente não tive que vender o meu, as bolsas me ajudaram). Também era fruto de uma formação peculiar. Éramos designers, mas tínhamos aulas de marketing, finanças e economia. Isso era só a ponta do iceberg.

Eis que conheci uma tal de IDEO, a empresa desenhava logotipos, mas também projetava mouse de iMac e tinha médicos e arquitetos no quadro de funcionários. Um click! Design não é desenho, é projeto. Fomos treinados para resolver problemas. Então por que ficar só na identidade visual? Este talvez seja o maior mito da profissão.

Criativo não pode saber planejamento? Somos apenas diretores de arte e autores de peças gráficas ou podemos almejar o mundo? Participei do ProXXIma 2017 e ouvi muita coisa legal sobre inovação (em breve um texto com mais detalhes), mas um dos fatos que mais me chamou a atenção foi o pessoal “convidando” os criativos para participarem de projetos tecnológicos. Em resumo, para o criativo sair do Photoshop e partir para o planejamento.

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Voltando a minha história… Minha carreira profissional sempre foi um gigantesco quebra-cabeça. Comecei como criativo em agências de publicidade, mas não durei muito. Descobri que a vida é injusta e Cannes só entrega um troféu, normalmente para o diretor de criação… e ele não divide com a equipe. Decidi tentar a vida no cliente.

Logo eu, amante do mundo digital, fui parar no maior portal do país. Fiz muito PNG e botões coloridos, mas também tive a oportunidade de ver gigantes nascerem (e até dar forma para algum deles). Percalços da vida me fizeram pular para outro portal… e outro… mais outro. Experimentei quase todos. Em muitos fui feliz, em outros fiz muito PowerPoint.

Até hoje não sei como, tudo aconteceu muito rápido, mas fui parar na maior revista do país (na época ela não era tão odiada e temas políticos não fazia parte de todas as capas dela). Eu era um designer com bagagem, mas rodeado de jornalistas. Aprendi pra caramba e fui editor de fotografia. Atenção para este detalhe, já não era mais “só” designer. Eu traduzia textos e reportagens com imagens. Meu maior case foi, em um fim de semana, emplacar os pés do Papa como destaque do site da revista. Queria mostrar as diferenças entre a igreja católica ortodoxa e a romana, tudo isso com os pés dos dois líderes religiosos.

Mas a vida, meus amigos… Já diria Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas e ela conseguiu fazer um belo plot twist carpado em 2012. No pessoal, um dos piores momentos que já vivi, no profissional, uma guinada espetacular. Fui parar no maior canal de documentários do planeta.

Designer!? Sim, eu era (nunca deixei de ser), mas agora tinha um MBA. Master in Business Administration. Qual designer faz um curso de administração?! Mas era MBA em Branding. Troquei o Photoshop pelo Excel. Só que com um diferencial, eu conhecia o processo criativo. Era design thinking antes de saber o que era isso. Eu era um criativo com visão de projeto. Ou seria um projetista com visão criativa? Não importa, isso é ser designer e virei responsável pelas áreas de conteúdo digital e mídias sociais. Tinha uma equipe e várias marcas para cuidar.

Ser designer não é só saber como funciona o Photoshop, onde fica a linha base de uma tipografia ou como usar a gestalt em uma peça gráfica. Ser designer é saber resolver problemas usando ferramentas criativas.

Ser designer não é só saber como funciona o Photoshop, onde fica a linha base de uma tipografia ou como usar a gestalt em uma peça gráfica. Ser designer é saber resolver problemas usando ferramentas criativas. Você pode focar em gestão de marcas (isso inclui o planejamento estratégico e todo designer deveria saber, na ponta da língua, conceitos de marketing).

Ou você pode trabalhar como produtor de televisão, editor de fotografia, gerente de produto e, até mesmo, artista plástico. Afinal, tem designer que gosta de seguir uma carreira artística e não há problema nisso.

Alguns anos atrás, eu dizia que os novos CEOs seriam designers. No entanto, somos reduzidos a meros desenhistas de gráfica. Você gasta uma cueca de dinheiro em formação, graduação, cursos e especialização (não me venha com o papo de autodidata, que isso dá outro texto enorme e, em breve, vou falar sobre este tema polêmico) e cobra 10 reais por hora de trabalho?! Ou acha que fazer identidade visual é o ápice da carreira?!

Mas por que não somos valorizados então? A resposta é simples, nós não valorizamos nosso trabalho. O Brasil não possui a “cultura do design”, ou seja, qualquer um pode fazer uma comunicação em redes sociais ou um cartão de visita. Existem designers de sobrancelhas e de portas. Os próprios designers não apoiam a regulamentação da profissão por medos e conflitos políticos.

Para ajudar, caímos no desespero e fazemos folheto por R$ 150. Então, a próxima vez que for reclamar sobre desvalorização do design, saiba que o grande culpado é você, eu, eles, todos nós. Se for para resumir tudo isso em uma só frase, eu diria para você… Seja um profissional completo, mas escolha um foco. Não somos simples diretores de arte, mas também não podemos abraçar o mundo.



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