Por Felippe Martins
Durante minha pré-adolescência sempre me imaginei sendo o “herói” do momento. Talvez por nunca ter sido aquele cara “popular”, me imaginava como aquele que derrubaria o império do bonitão e arrogante da classe, salvaria todos de alguma ameaça externa e tomaria a posse da minha musa inatingível.
É claro que com o passar do tempo percebi que isso era apenas uma fase, pois a cada ano havia uma musa inatingível diferente bem como um novo bonitão arrogante e popular para derrubar. Mas mesmo após conseguir ultrapassar esses assuntos, sempre me lembro da sensação que era imaginar esse mundo em que eu salvava e como seria se isso acontecesse.
Em 1986 o diretor Fred Dekker nos presenteou exatamente com essa alegoria. Como seria salvar o dia, detonar o bonitão e ficar com a garota com Night Of The Creeps. Mas Fred Dekker ainda faz mais. Ele simplesmente presta uma homenagem inteligentíssima ao gênero terror com situações e homenagens sensacionais.
A história se inicia no espaço sideral (!) onde em uma nave, alienígenas (interpretados por bonecos de borracha impagáveis) perseguem um segundo alien que roubou um estranho cilindro prateado. Bem, não preciso dizer que esse cilindro de algum modo cai na Terra, mais precisamente na década de 50. Um casal está namorando e encontra o tal cilindro de onde saem lesminhas pretas (!) que pulam em sua boca (!).
Ela, enquanto espera no carro é atacada por um psicopata e morre a machadadas (!).
Após esta introdução fantasticamente trash, somos remetidos ao ano de 1986 onde conhecemos os amigos Christopher Romero (Jason Lively) e J. Carpenter Hooper (Steve Marshall) que querem entrar em uma fraternidade. Reparem que Dekker homenageia os diretores George Romero (A noite dos Mortos Vivos), John Carpenter (O Enigma do Outro Mundo) e Tobe Hooper(O Massacre da Serra Elétrica) com os sobrenomes dos personagens.
Os dois garotos, juntos com Cintia Cronemberg (homenagem ao diretor David Cronemberg de “A Mosca”) interpretada pela linda e maravilhosa Jill Witlow e o policial durão Ray Cameron (homenagem ao diretor James Cameron de “Exterminador do Futuro) interpretado pelo sempre durão Tom Atkins (de Maniac Cop 1), lutarão contra “lesmas-espaciais-parasitas-rastejantes” e uma horda de zumbis antes do baile de formatura!
Night Of The Creeps possui um humor negro impagável. Em certo momento o personagem de Tom Atkins, ao descobrir que o homem que fugira do necrotério era aquele da década de 50, solta a máxima: “O que é isso? Uma investigação policial ou um filme B ruim?”. Auto-paródia genial! Os efeitos especiais são puramente em stop-motion e prostéticos, utilizando até bonecos e muito sangue falso. Os efeitos das cabeças dos zumbis se abrindo e das lesmas saindo é tão tosco que é genial!
Além dos já citados, Dekker presta homenagem a Sam Raimi (de “Evil Dead”) com o Oficial Raimi, à Steve Miner (Sexta Feira 13 parte 2 e 3) com o Sr. Miner e ao diretor John Landis (Um Lobisomem Americano em Londres) com o Detetive Landis. Dessa forma, Fred Dekker mostra seu amor incondicional ao gênero, transformando o filme em uma auto-referência muito divertida ao cinema de horror!
Fred Dekker, que logo no ano seguinte seria o diretor do também ótimo Deu a Louca nos Monstros (The Monster Squad – 1987) sumiu da vida atrás das câmeras após o fiasco com ROBOCOP 3, de 1993. Uma injustiça já que muitos diretores medíocres e sem talento fazem filmes cada vez piores e descartáveis sempre conseguindo financiamento aos seus projetos… Vide Micheal (cof, cof, cof) Bay….
Bem, onde quer que esteja, Fred Dekker, sempre me lembrarei da ótima nostalgia que me causa ao assistir aos seus filmes. E recomendo os leitores do Com Limão que procurem imediatamente assistir Night Of The Creeps, lançado em DVD e Blu-Ray no último dia 27. Um filme divertidíssimo, descompromissado e muito criativo da tão maravilhosa década de 80.
Felippe Martins é escritor, professor e economista. Além de editor de Cinema do Com Limão e cinéfilo inveterado.