Dificilmente falaria sobre política no Com limão, mas como o mundo está dividido em dois lados (estou falando da disputa entre Homem de Ferro e Capitão América, é claro), aqui estão meus two cents sobre o tema: “Patriotismo e luta pela liberdade”.
Companheiros e companheiras, se você está defendendo ou demonizando algum político brasileiro, tenho uma má notícia. Você está perdido. Mas fique tranquilo, todos nós estamos. Estamos perdidos porque não fomos ensinados a sermos politizados, temos memória curta e nos apegamos emocionalmente muito fácil. Nós nunca seremos um euromaidan ucraniano.
Para você entender o que estou falando, você precisa assistir o documentário “Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”, do Netflix. Assisti ele na última sexta-feira (04/03) e ainda não consegui digerir tudo. E quando falo em digerir, não estou falando da violência gratuita e generalizada produzida pelo então presidente ucraniano Vitaliy Zakharchenko, mas de como perdemos o foco político no Brasil.
Política é um assunto chato. Pelo menos foi assim que aprendi. Apesar de ler jornal desde pequeno, política é um tema que cansa. Mas isso tem uma explicação, nós nunca fomos realmente politizados. Sempre fomos massa de manobra de um punhado de políticos.
Ora, basta olhar nosso emblemático cara pintada que virou político e brother do Collor. Mas isso não vem ao caso. Quero falar o que devemos aprender com o povo ucraniano e porquê devemos assistir “Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”. Já que a internet adora listas, aqui vai mais uma. Espero que gostem!
- A chuva bateu, manifestante correu: A primeira coisa que me chamou atenção neste documentário foi o frio. O frio ucraniano não é uma leve brisa de outono. Ele é forte e vem acompanhado de neve. Eu olhava para aquela galera e pensava “cara, está nevando! Vai pra casa!”. Ah, como sou ingênuo. Aqui no Brasil é diferente. Começou aquela chuva fraca, já foi embora metade. Caiu uma chuva de verão, sumiu todo mundo. Bater panela é muito mais fácil.
- Mexeu com meu filho, mexeu comigo: Na primeira noite de protestos ucranianos, a polícia dispersou os estudantes com truculência e cassetetes. No dia seguinte, os pais daqueles estudantes, diga-se de passagem, alguns pais bem grandes, foram para as ruas. Vai bater no meu filho? Eu vou bater em você três vezes e botar você para correr.
- Organização da Revolução: Não se faz revolução sem organização. Dentro do maidan (essa microcidade que se criou na praça ucraniana), os manifestantes criaram hierarquias, processos e tarefas. Quando foi necessário se defender, lá estavam os policiais do maidan. Não é só isso! Estamos falando de 100-200 mil manifestantes contra 10-20 mil agentes do governo. Eles tinham bala de borracha, mas o povo tinha uma massa enorme de gente.
- Políticos bonzinhos: Quem foram os primeiros apoiadores do maidan ucraniano, depois que os estudantes, religiosos (todas as religiões estavam juntas) e o restante da população se juntou? Os políticos bonzinhos. A oposição magnífica. Ah, vai catar tatu no mato! Se até o momento eles não tinham feito nada, agora seriam a solução? Na nona reunião entre a população e os líderes da oposição (abaixo você confere o palco que era centro das discussões entre população e oposição), os ucranianos do maidan começaram uma vaia coletiva. A população viu que a conversa com a oposição era necessária, mas também percebeu que eles eram todos iguais. Não preciso nem dizer que por aqui é igual.
- Nós não temos Titushky: O Brasil é um país pacifista por natureza. Nosso exército não é uma super potência só por falta de investimento, o brasileiro sempre resolveu as coisas no papo. Isso é uma vantagem para todos nós. Ao contrário dos ucranianos, em terras tupiniquins, não temos os Titushky, mercenários apoiados pelo governo de Viktor Yanukovych. Em resumo, eles eram ex-presidiários que foram soltos por um simples motivo: agredir o povo de uma forma que nem a polícia poderia fazer. Eram assassinos por profissão. Você acha que a tropa de choque é agressiva? Meu amigo, você não sabe o que é um Titushky.
- Revoluções são feitas com lágrimas: Não existe revolução sem embate. Quem está na liderança, só larga o osso depois de muita briga. Não estou falando que temos que criar uma guerra civil, muito pelo contrário. Temos que aprender com nossos amigos ucranianos que, mesmo depois de serem alvejados com balas de verdade (102 pessoas morreram), não arredaram o pé do lugar. Este foi o ponto crucial para o sucesso da revolução ucraniana. Yanukovych percebeu que, mesmo matando seu próprio povo, eles não desistiriam da causa. Naquela noite Yanukovych pediu asilo político para a Rússia e partiu escondido da capital Kiev.
- Impeachment de cachorro: O cachorro vive correndo atrás do carro, mas ele não sabe o que fazer se conseguir pegar. Essa é a sensação de que tenho daqueles que pedem impeachment. “Vamos tirar a Dilma”, brandão os mais radicais. Ok, e depois? No caso da Ucrânia, os fatos que sucederam a saída de Yanukovych foi uma guerra (abaixo uma foto de soldados na Crimeia). Já no nosso caso, vamos empossar outro da mesma laia? Cunha, Renan ou Lewandowski assume? Nem os que gritam pelo impeachment sabem a linha sucessória. A minha sugestão nesse caso é… vamos pensar antes de agir. Vamos aprender com os erros do passado e projetar objetivos para o futuro. Vamos aprender com “Winter on Fire”.
Já que o brasileiro adora se apropriar de influências externas, basta lembrarmos da onda Je-suis-qualquer-coisa, que tal nos apropriarmos daquele espírito ucraniano e, não brigarmos por política, mas encontrarmos a nossa liberdade esquecida? #tupimaidan