Design
Exclusivo: Ash Hewson, da Affinity, fala sobre os impactos no mercado criativo
Na primeira entrevista ao Brasil, Ash Hewson, CEO da Affinity revela por que o app será gratuito para sempre e como isso está transformando o mercado criativo.
Na primeira entrevista ao Brasil, Ash Hewson, CEO da Affinity revela por que o app será gratuito para sempre e como isso está transformando o mercado criativo.
O anúncio que o novo Affinity será gratuito para sempre caiu como um terremoto no universo criativo — especialmente no Brasil, onde a assinatura de softwares profissionais sempre pesou no bolso dos designers. Em apenas seis semanas, a suíte já superou 3.1 milhões de downloads, um número que ultrapassa tudo o que as versões 1 e 2 somaram em dez anos.
O impacto foi tão grande que, no Brasil, as instalações cresceram nove vezes mais do que todo o histórico anterior do aplicativo. Um marco incrível!
Em uma conversa exclusiva para o Com limão (e, pela primeira vez, para um veículo no Brasil), recebemos Ash Hewson, CEO da Affinity, que contou sobre o panorama atual de um dos maiores softwares de design e edição de fotos e detalhou por que a empresa rompeu com o tradicional modelo de assinaturas e optou por oferecer ferramentas profissionais gratuitamente para sempre.
A seguir, você confere a entrevista, com trechos inéditos sobre o futuro do aplicativo, explicações sobre o modelo de negócios, integração com o Canva e o novo formato unificado que está redesenhando o fluxo de trabalho dos designers.
“Estamos sendo totalmente transparentes: Affinity será gratuita, para todos e para sempre. Não há nada vindo pela frente que vá mudar isso.”
— Ash Hewson, CEO da Affinity
O executivo britânico iniciou a conversa explicando a decisão de tornar o Affinity gratuito para sempre. “Estamos sendo totalmente transparentes aqui: Affinity será gratuito, para todos e para sempre. Não existe nada planejado que vá mudar isso. Acreditamos profundamente que a criatividade deve ser acessível, sem barreiras”.
A decisão, segundo Hewson, está alinhada à filosofia do Canva — empresa que adquiriu a Affinity em 2024 — de democratizar o acesso às ferramentas de criação. Ele explica que, por décadas, designers foram induzidos a acreditar que softwares profissionais precisam ser caros. “Queremos mudar esse jogo, romper essa lógica que dominou o mercado nos últimos 30 anos”, diz.
Segundo Hewson, o modelo é sustentado por duas frentes: funcionalidades avançadas vinculadas ao Canva Pro e a presença da Affinity dentro de soluções corporativas.
Ele completa, “claro que surgem perguntas sobre o modelo de negócios, mas o Canva mostrou ao longo dos anos que é possível oferecer ferramentas gratuitas e, ao mesmo tempo, ter serviços pagos como conteúdo extra, IA ou funcionalidades na nuvem. Então nossa visão é: por que deveria ser diferente apenas porque são ferramentas profissionais? Estamos tendo essa conversa porque, por 30 anos, ficou enraizado que ferramentas profissionais precisam ser caras. Antes das assinaturas, softwares como QuarkXPress custavam milhares de dólares por licença.”

Sobre a sustentabilidade financeira do software, Hewson explica: “quem cobra por assinatura tende a cobrar muito caro por mês. Mas esse virou o padrão. Queremos fazer algo totalmente diferente, algo que revolucione o mercado e o transforme para sempre. É isso que estamos fazendo. Se você quiser usar recursos de IA [no Affinity], aí sim é necessário ter Canva Pro ou Canva Business.”
“Esse é o lado comercial — para quem quer funcionalidades avançadas. Mas, para nós, isso faz parte de algo maior: vemos Affinity e Canva juntos como a melhor plataforma de comunicação visual do mundo. Especialmente para empresas, o Affinity é onde designers criam assets perfeitos, e o Canva é onde equipes inteiras conseguem reutilizar esses assets em documentos, apresentações e tudo mais. Como solução corporativa, isso fortalece muito o Canva Enterprise.”
“Já ultrapassamos 3,1 milhões de downloads em apenas seis semanas — quase o mesmo que tivemos nos últimos dez anos somando as versões 1 e 2. O crescimento foi gigantesco”, diz.
Hewson afirma, “entendemos o impacto financeiro que isso tem para as pessoas. Assinaturas profissionais são um custo muito pesado para muitos. Poder aliviar isso nos deixa realmente felizes. E isso é ainda mais importante em países em desenvolvimento. Estivemos na África semana passada, por exemplo, e há muitas regiões onde simplesmente não é possível pagar por ferramentas assim. Tornar o software acessível faz parte da nossa missão.”
Quando perguntado sobre os brasileiros, Hewson destaca o entusiasmo do público: “O Brasil explodiu em adoções. Em cinco semanas, tivemos 9 vezes mais downloads do que em 10 anos.”
“É claro que é fácil — e natural — que as pessoas comparem com a Adobe. Mas nossa intenção sempre foi ouvir a comunidade e criar um produto que realmente beneficie essas pessoas. O Canva mostrou isso por anos: se você escuta seus usuários e entrega o que eles querem, você tem um produto de sucesso. E, além do modelo gratuito, o que fizemos com esta nova versão é revolucionário: integrar edição de fotos, vetores e publicação em um único app, sem precisar alternar entre formatos e softwares diferentes.”
“(…) se você escuta seus usuários e entrega o que eles querem, você tem um produto de sucesso.”
— Ash Hewson, CEO da Affinity
“Outra grande vantagem da Affinity é que, depois que você aprende a usar, já sabe usar qualquer estúdio — Vector, Pixel, Layout ou qualquer outro. Antes, se você fosse especialista em vetores e tentasse usar uma ferramenta de diagramação, encontraria um fluxo totalmente diferente, com atalhos diferentes, camadas diferentes. Agora não. E, sobre o formato unificado, algo muito importante: qualquer pessoa pode abrir um arquivo criado na Affinity e editar sem pagar nada. Antes, se você enviasse um arquivo de um software pago, a outra pessoa teria que comprar o software para abrir. Nós derrubamos essa barreira”, completa Hewson.
“Teremos muitos novos recursos nos próximos meses: um novo live blend tool, suporte completo a scripts — você poderá automatizar a Affinity com JavaScript — e muitos outros aprimoramentos. Recebemos mais de 7 mil pedidos de usuários dentro do próprio app, e já começamos a atender vários deles. Estamos ouvindo a comunidade.”
Ao ser questionado sobre integrar ferramentas de vídeo e motion, Hewson é mais cauteloso: “muitos pedem isso. Nunca diga nunca. Mas é algo que exige muito trabalho, então não é algo imediato.”
Outra novidade é a chegada da versão para iPad. O executivo afirmou: “Estava mexendo nela [versão do Affinity para iPad] esta manhã. Já temos uma versão interna. Ainda falta um pouco, mas está ficando muito boa. Chega no ano que vem.”
“Educação é uma parte crítica dos nossos planos. Tornar Affinity gratuita já remove uma barreira gigantesca. Mas vamos lançar planos educacionais, materiais de apoio, certificações e conteúdos para professores ao longo do próximo ano, para facilitar adoção em escolas e universidades”, afirma Hewson ao Com limão.
Outra grande revolução do novo Affinity está no formato unificado, que combina vetores, pixels e layout no mesmo arquivo. Esse recurso elimina a necessidade de alternar entre aplicativos ou lidar com formatos diferentes.
“Antes da nova versão, Affinity eram três apps separados. E vale dizer que, quando começamos, nossa visão original era ter tudo em um só app. Não fizemos isso no início, mas construímos a base tecnológica para que isso fosse possível no futuro.”
Hewson completa, “isso era um dos pedidos mais frequentes dos usuários: combinar os fluxos num único aplicativo. Mesmo no Affinity Photo antigo, você podia adicionar texto, formas simples… mas às vezes faltava um recurso que só existia no Designer. Isso quebrava o fluxo.”
“Acabamos com a necessidade de alternar entre aplicativos ou lidar com formatos diferentes. Agora, vetores, pixels e layout coexistem no mesmo arquivo. E qualquer pessoa pode abrir um arquivo .AF sem pagar nada, o que derruba uma barreira histórica.”
— Ash Hewson, CEO da Affinity
O executivo também celebra a customização de estúdios: “Vemos artistas criando configurações muito avançadas — como um usuário que faz quadrinhos e criou um estúdio com molduras, pincéis específicos, efeitos e ferramentas vetoriais para expressões gráficas. Para esse fluxo, é perfeito: tudo está ali, sem trocar de estúdio. Mas também vemos muitos usuários confortáveis com os estúdios padrão, porque é mais parecido com o que já estavam acostumados. E claro, é possível fazer pequenas customizações, como adicionar só uma ferramenta de outro estúdio.”
Para flexibilidade total, você pode criar seu próprio Estúdio que atenda às suas necessidades de design. Por exemplo, você pode querer reduzir o número de ferramentas ou painéis em exibição para apenas aqueles que você usa ou, inversamente, adicionar ferramentas extras de outros Estúdios.
A ordem das ferramentas e a disposição dos painéis também podem ser alteradas. Outra opção seria criar um Estúdio para um projeto específico que se adapte a esse conjunto de ferramentas.
“Agora, se você estiver no Vector Studio e quiser adicionar um pincel pixel, pode. Basta adicionar. E você pode criar seu próprio estúdio, com suas ferramentas, sua organização. Isso economiza muito tempo. Outra vantagem é manter um histórico de desfazer consistente. Você começa com vetores, edita pixels, adiciona layout, tudo no mesmo arquivo, sem perder nada ao mudar de aplicativo.”
E para quem esperava uma frieza britânica numa entrevista institucional, Ash Hewson surpreendeu em simpatia durante toda a conversa e não existou em falar com alegria sobre os brasileiros. “O entusiasmo do Brasil foi inspirador. Vocês são uma parte essencial dessa revolução”.
Ele completa, “como mencionei antes, já tivemos mais downloads globalmente em seis semanas do que nos dez anos anteriores. E no Brasil,foram quase nove vezes mais downloads do novo Affinity em cinco semanas, do que tivemos nos dez anos anteriores no país.” Ele completa, “acho que, se eu pudesse deixar uma mensagem, seria simplesmente agradecer a todos que nos apoiaram e que acreditam no que estamos fazendo aqui.”