Por Pablo Vallejos
Após uma rodada de palestras, antes de uma pausa para coffee break, o TEDxSudeste contou com breves minutos com as palavras de Tiago Pereira, um dos criadores do Doe Palavras. O projeto apresenta uma proposta simples – porém genial – que utiliza o Twitter como ferramenta de produção. Basta enviar uma mensagem motivadora, de fé, força, esperança no site que ela será reproduzida em TVs espalhadas pelo Instituto Mário Penna, de Belo Horizonte. Com isso, muitos pacientes no tratamento de câncer têm a oportunidade de acreditar na cura lendo frases e mensagens de pessoas de todo o país.
Tiago Pereira, o mineiro de 26 anos que passou pelo palco do auditório do TEDxSudeste, conversou com o Com Limão sobre quando se têm utensílios para iniciar uma boa causa.
Com limão: Todo mundo está com ferramentas virtuais necessárias para se fazer mudanças. Qual é sua opinião sobre como elas têm a capacidade de fazer a diferença?
Tiago Pereira: A maneira de conscientizar a pessoa a usar essas ferramentas que a gente tem atualmente por causas mais nobres é exatamente o que estamos fazendo aqui hoje: mostrar ideias realizadas, comprovadas, com resultado de que tudo isso pode ser usado pelo bem. Se o conceito tiver uma ideia como a nossa e se fizerem algo como fizemos com o #DoePalavras – que deu certo – creio que muitos movimentos criativos vão usar, também, o seu poder de criação para poder fazer coisas significantes e bem legais.
Parece que as pessoas precisam de um impacto. De alguma coisa para serem impulsionadas
A melhor forma de incentivar não é falar como foi feito ou poderia ser feito na teoria. É pegar a fórmula, juntar, e falar: “Olha, galera, se puderem colocar isso na cabeça de vocês e usarem um tempo de seus dias para usar isso para o bem, pode ser lindo e mundo vai agradecer”. Parece que as pessoas precisam de um impacto. De alguma coisa para serem impulsionadas.
CL: Que grande idéia te motivou a estar aqui e ser quem você é hoje em dia?
TP: Curiosamente, o que me levou a pensar assim atualmente não é uma coisa antiga; é bem recente. Foi o TEDxSão Paulo. O evento conseguiu virar uma chave na minha cabeça para eu usar a capacidade criativa que desenvolvi ao longo de alguns anos, para coisas mais nobres do que divulgar uma empresa, ou qualquer outra coisa do tipo.
Comecei a direcionar meu esforço – que é diário – para criar coisas que transformem a vida de alguém, mesmo que seja pouca gente. Coloquei na minha cabeça que não precisa ser uma coisa gigantesca, mas se você ajudar um quarteirão vai ser bacana para as pessoas que estão ali e realizador para você.
CL: Então, pode-se dizer que a proposta de propagar idéias que o TED possui conseguiu transformar a sua vida?
TP: Com certeza! Pois é um evento que reúne várias disciplinas. Não é só publicidade, jornalismo, médico… É um cruzamento de informações muito rico, muito poderoso.
Contrastando com o contexto apresentado por Tiago Pereira, o pós coffee break deu lugar a uma figura que muitos conhecem como o “Capitão Nascimento”. Rodrigo Pimentel, ex policial militar, escreveu o livro “Elite da Tropa” para inserir os leitores num cenário pouco conhecido: aquele onde bandidos, criminosos e policiais vivem em conflito em uma sociedade balançada pela violência.
O atual comentarista de segurança do RJTV, jornal local do Rio de Janeiro da TV Globo, foi entrevistado pelo Com Limão para falar sobre o filme “Tropa de Elite” – inspirado no livro – sob um olhar diferente do que se viu desde a época do lançamento.
Com limão: Como você interpreta a visão que o público teve do filme “Tropa de Elite”?
Rodrigo Pimentel: O grande público entendeu que aquelas operações policiais são infrutíferas, são perigosas, desnecessárias; não trazem nenhum benefício pra ninguém. Então, é uma forma de você democratizar um debate. Até então, um debate muito técnico – para delegado, coronel, general.
A questão da segurança pública sujeita ao grande publico. As pessoas achavam que era um tema muito especifico. O filme trouxe, pelo menos, durante 60 dias – de forma superficial, eu confesso – um debate. Eu participei de dezenas de debates em universidades e escolas, devido à questões levantadas pelo longa.
o filme virou um fenômeno midiático em função da pirataria
CL: É inegável que o filme criou uma moda que cresceu com a internet. Qual é sua opinião sobre como a internet transformou o “Tropa de Elite” num hype?
RP: Olha, o filme virou um fenômeno midiático em função da pirataria e da internet muito antes mesmo de sair nos cinemas. Não foi o filme mais visto do Brasil, mas tem um legado de fenômeno midiático.
CL: De vez em quando parece que existem duas visões de modismo: aquela que existe no mundo presencial e aquela que circula na internet, comunidades de Orkut, Trending Topics, entre outros. Algumas coisas são levadas a sério, outras, na piada escrachada. O que você acha de quando algo toma esse rumo, ganha uma visão extremamente diferente?
RP: Existe uma técnica de roteiro que determina, numa história muito pesado, algo chamado ‘alívio cômico’. O filme é pesado: fala sobre tortura, drogas, violência… Mas você consegue, até o final do “Tropa” de dar uma gargalhada.
Apesar de isso tudo existir, eu pensava que precisava ter alguma coisa que soltasse, fosse mais descontraído. Às vezes, o tiro saía pela culatra, porque em algumas sessões que eu estive, via algumas pessoas rindo na hora da tortura. Lamentável.
CL: Todos aqui presentes vieram com o intuito de espalhar ideias. Que grande ideia que você teve na vida, que te transformou de alguma maneira?
RP: A minha grande ideia foi abandonar o serviço publico depois de 12 anos na polícia; abandonar o emprego certo num momento de desemprego do país e de acreditar que as histórias que acumulei ao longo da minha vida poderiam ser objeto de transformação social. E foram.
O filme “Tropa de Elite” ajudou – pode ter certeza que ajudou – o carioca a repensar a segurança pública na cidade. Algumas transformações, atingimos de imediato: a despolitização da segurança pública, promovida pelo atual governo, foi o reflexo imediato do “Tropa”. E, hoje em dia, nosso secretário de segurança pública é um técnico. Não é um político e ponto final.
Pablo Vallejos é assessor de imprensa e editor de vídeos. Além de cinéfilo e amante da publicidade, é colaborador do Com limão no Rio de Janeiro