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Mãe! e o egocentrismo humano com o meio ambiente
No texto de hoje, quero trazer algumas reflexões que o filme Mãe! nos convida a fazer. Ao contrário das críticas que têm circulado pela internet, não vamos focar…
No texto de hoje, quero trazer algumas reflexões que o filme Mãe! nos convida a fazer. Ao contrário das críticas que têm circulado pela internet, não vamos focar…
No texto de hoje, quero trazer algumas reflexões que o filme Mãe! nos convida a fazer. Ao contrário das críticas que têm circulado pela internet, não vamos focar nas analogias religiosas que o filme faz (pelo menos vou tentar não guiar nesse ponto, mas algumas citações ou analogias devem surgir). A ideia do nosso texto é focar no aspecto ambiental que o filme levanta.
Para quem ainda não assistiu a Mãe!, filme do diretor americano Darren Aronofsky e estrelado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, aviso que os parágrafos a seguir são recheados de spoilers (a.k.a revelações). Se você já assistiu, convido a leitura e sugiro que assista ao filme novamente, agora com um novo pré conceito.
Antes de falarmos sobre os aspectos ativistas de Mãe!, precisamos entender quem é Aronofsky, que, além de diretor, é o roteirista do filme. Premiado diretor de cinema, responsável por filmes como Cisne Negro e Noé, Aronofsky também é conhecido pelo seu ativismo ambiental. Membro do conselho da Sierra Club, uma das associações ecologistas mais importantes do EUA, o diretor já recebeu o prêmios da PETA e da Sociedade Humana dos EUA. Em 2015, ele e o artista francês JR montaram uma arte urbana convidando os diplomatas da COP21 a agirem contra as mudanças climáticas. No ano anterior, Aronofsky já havia lançado o longa “Noé”, estrelado por Russell Crowe, onde faz uma releitura da história bíblica e busca, implicitamente, chamar a atenção do público para o aquecimento global.
Introduzido Aronofsky, vamos voltar ao filme. Mãe! mostra a vida de uma mulher (Jennifer Lawrence), casada com um escritor (Javier Bardem), e que começa a receber estranhas visitas em sua casa (começando por Michelle Pfeiffer e Ed Harris), que acabam desencadeando uma série de eventos catastróficos. Pode parecer confuso, mas o filme – visto de uma forma superficial – é exatamente isso. Para ajudar, nenhum personagem tem nome; vale também falar que não há trilha sonora. Essa é a primeira camada do filme.
Na segunda camada, entendemos que os personagens são analogias de histórias e personagens religiosos. Javier é deus, com “d” minúsculo porque, em nenhum momento, ele é nomeado. Apesar de aparecer nos créditos como “Him” (“ele” em inglês e com “h” em maiúsculo), o personagem representa um criador adorado. Não necessariamente o Deus cristão. Já Jennifer Lawrence é a mãe. Em alguns momentos Mãe-Terra ou Gaia, em outros é a mãe do filho de deus. Observe que não a chamei de Maria, porque ela não é a mãe de Jesus, mas simplesmente mãe, podendo ser a mãe de outros profetas de outras religiões. Essa negação por uma crença específica fará sentido, prometo! Outro personagem presente desde o início do filme, mas ignorado por todos, é a casa onde habitam. A casa é uma analogia à Terra, nosso lar.
Quando os visitantes chegam, eles nos representam. O ser humano se assentando e dominando o planeta. Mas Aronofsky não quer mostrar o nosso ponto de vista, esse nós já conhecemos. Com jogo de câmera e fotografia incomum, ele quer mostrar o incômodo gerado na mãe natureza. Provedora de tudo (é ela que produz as refeições, arruma a cama – dando moradia – e reforma toda a casa), acaba sendo deixada de lado e, até mesmo, agredida. Algumas pessoas tiveram a leitura que isso acontece devido ao egocentrismo do deus, mas na verdade tem a ver com o egocentrismo do ser humano. Aliás, apesar de outras tantas interpretações, as falas do personagem de Javier Bardem são poucas e, na maioria, se resumem em afirmações como “temos que perdoá-los” ou “eles não têm para onde ir”. O planeta é nosso (como se não dividíssemos espaço com outras milhares de espécies) e a culpa é sempre do outro. O eu é mais importante do que nós, mostrado diversas vezes e com diversas analogias.
Para ajudar, os antipáticos visitantes, representados como “fãs” do escritor, se apropriam da casa do modo que querem, não se preocupam com ela (natureza) e interpretam os textos do escritor cada um da sua própria maneira, resultando em conflitos. Ora, se isso não é uma analogia com a nossa realidade e a relação que temos com o planeta, já não sei mais o que é.
Mãe! não é sobre religião, tanto que “Ele” chega a desaparecer em determinado momento, mas é sobre o ser humano e como nós cuidamos da nossa casa, do nosso planeta. Colocar o público no lugar da “mãe” é um artifício de Aronofsky para criarmos empatia com a natureza, mesmo que de forma sutil. Por fim, Aronofsky dá um soco no estômago do telespectador ao mostrar que o planeta e a natureza não precisa do homem, mas o contrário. Aliás, é bem explícito a questão de que a natureza se reconstrói sozinha, quando não há intervenção do ser humano, e que ela pode nos “expulsar” a qualquer momento.
Em resumo, “Mãe!” é um filme que usa analogias de uma história que já conhecemos, seja você cristão, budista, ateu ou qualquer outro crente, para dar um alerta com suas entrelinhas. Um alerta que diz “não importa quem é você, nós só temos este planeta e olha como estamos cuidando dele”. É com essa infinidade de analogias que Darren Aronofsky nos faz pensar como estamos cuidando do nosso lar, da nossa relação com o meio ambiente e como somos irrelevantes na continuidade do planeta.
Afinal, “eles não têm para onde ir”, diz Ele. Isso é verdade, nós não temos para onde ir. Não importa se Elon Musk ou qualquer outro sonhador busca viagens interplanetárias (isso deve demorar), termino esse texto usando as palavras do astrônomo Carl Sagan. “(A Terra) é o nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todo ser humano que já existiu, todos de quem você já ouviu falar, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada ‘superstar’, cada ‘líder supremo’, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de Sol.”