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A cultura pop e a inovação: Cocriação e um círculo virtuoso

A cultura pop e a inovação fazem parte de um círculo virtuoso. Pode parecer estranho dizer isso, mas um inspira o outro, formando um looping que empurra o mundo na…

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A cultura pop e a inovação fazem parte de um círculo virtuoso. Pode parecer estranho dizer isso, mas um inspira o outro, formando um looping que empurra o mundo na direção das novas ideias. Como já falamos no texto “De onde vêm as boas ideias”, uma boa ideia é resultado de um conjunto de repertórios que acumulamos durante muito tempo. A cultura pop, principalmente o campo da ficção científica, também é um pouco disso, um emaranhado de ideias que se conectam por meio de uma licença poética de autores visionários.

Quando exploramos, pesquisamos e/ou estudamos possíveis futuros (futurologia), notamos que muitas das soluções e tecnologias que atualmente temos acesso foram inicialmente propostas por autores de livros e filmes. Isaac Asimov, por exemplo, criou “As 3 Leis da Robótica” antes do primeiro transplante de órgão (1954) e primeira vacina contra a poliomielite ser produzida em larga escala (1055). O que era para ser parte do livro “Eu, Robô”, hoje servem como diretrizes para pesquisadores de inteligência artificial.

1ª Lei: um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal; 2ª Lei: os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; 3ª Lei: um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.

Asimov é apenas um exemplo entre tantos outros. Os autores H. G. Wells, Arthur Clarke e Júlio Verne, as séries Black Mirror e Westworld, ou os filmes Ex Machina e Her são ótimos exemplos deste círculo virtuoso da cultura pop e inovação. O francês Julio Verne, por exemplo, foi além na tarefa de influenciar a inovação. Em “As viagens de Gulliver”, Verne afirma que Marte possui duas luas, algo que só foi descoberto depois de 140 anos, em 1877. Palpite certeiro ou astronomia avançada, nunca saberemos. Mas sabemos que esse não foi o único acerto de Verne. O autor francês também adiantou/influenciou a criação de cápsulas espaciais e velas solares (Da Terra à Lua) e de submarinos elétricos (20 Mil Léguas Submarinas).

Isso quer dizer que os livros e filmes de ficção criam realidades e/ou os autores deste tema são ótimo futurólogos? Mais ou menos. Não são todos que adiantam inovações com mais de cem anos, como o caso de Júlio Verne. Arthur Clarke, por exemplo, fala sobre satélites de comunicação apenas 14 anos antes do primeiro satélite ser lançado, em 1965. Já H. G. Wells antecipa as bombas nucleares em “The World Set Free” 30 anos antes da primeira ser lançada. Isso acontece porque, muitos destes profissionais, desenvolvem o pensamento exponencial, construindo cenários que parecem impossíveis de acordo com pequenas tendências. Algo bem diferente do pensamento linear que estamos acostumados trabalhar.

Outro fator para essas obras anteciparem inovações é a cocriação. Nas obras mais atuais, como séries e filmes, é comum ter especialistas (cientistas, inventores, matemáticos, físicos, etc.) como parte da equipe de roteiristas. Veja o caso do filme Interestelar, do britânico Christopher Nolan, que mostra uma equipe de astronautas que viaja através de um buraco de minhoca à procura de um novo lar para a humanidade. Antes de produzir ou filmar seus roteiros, Nolan faz intensas pesquisas e consultas a especialistas e é um dos diretores de Hollywood que realmente se preocupa com a base científica dos seus trabalhos. No entanto, Interestelar recebeu diversas críticas sobre a alguns furos no roteiro. Em resposta, Nolan afirmou: “Eu estou consciente dos furos nos meus filmes (…) Eu sei onde forçamos a barra na maneira que os filmes precisam fazer, e eu alertei o Kip (Thorne, produtor executivo) sobre essas coisas.” Ou seja, Nolan se preocupa com a base científica, mas entende que seu trabalho é entretenimento e, por isso, precisa ter aquela “licença poética” para extrapolar a realidade e entrar no campo da ficção.

Por fim, a cultura pop também é uma ferramenta de criatividade. Como as histórias nos ajudam a imaginar novos contextos, novos cenários; é comum vermos especialistas que se perguntam “será que é possível?” e vão em busca de tornar aquilo realidade. É possível uma cidade hiper conectada? É possível um mundo onde todos os carros são elétricos? São perguntas que parecem ficção, mas caminham a passos largos para o campo da inovação.

E onde isso se conecta com o universo de serviços públicos e com o próprio setor público? Ora, quantas distopias e utopias são cenários para histórias incríveis e emulam situações de gestão pública? Veja, por exemplo, o livro “A cidade do sol”, do monge e filósofo dominicano Tommaso Campanella, que idealiza uma cidade metodicamente ordenada e feliz, onde os habitantes têm suas necessidades essenciais supridas e profissões determinadas de acordo com suas aptidões pessoais. Este é apenas um exemplo, um exercício de criatividade para cenários possíveis de sociedades e das suas necessidades. E você, acredita que os livros, cinema e séries são bons exercícios de criatividade para pensarmos a realidade?

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Confira abaixo o infográfico “Previsão ou influência? Uma história de livros que prevêem o futuro” (“Prediction or Influence? A history of books that forecast the future”, em inglês) sobre livros e autores que influenciaram inovações no decorrer da história.

A cultura pop e a inovação: Cocriação e um círculo virtuoso

Créditos: Imagem destaque – Tithi Luadthong/Shutterstock



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