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O Homem das Estrelas... E a sobrecarga emocional de Moon
Por Fábio M. Barreto Ao longo da história do cinema, poucos atores foram capazes de entreter as platéias sozinhos. Tom Hanks e Will Smith são alguns exemplos…
Por Fábio M. Barreto Ao longo da história do cinema, poucos atores foram capazes de entreter as platéias sozinhos. Tom Hanks e Will Smith são alguns exemplos…
Por Fábio M. Barreto
Ao longo da história do cinema, poucos atores foram capazes de entreter as platéias sozinhos. Tom Hanks e Will Smith são alguns exemplos recentes, mas Sam Rockwell entrou rapidamente para esse grupo ao dar um espetáculo em Moon, ficção científica comportamental do melhor calibre dirigida por Duncan Jones, filho de David Bowie. A ligação não poderia ser mais bem vinda e Moon surge como o “homem das estrelas/que gostaria de nos encontrar/mas acha que vai sobrecarregar nossas mentes”.
No ano dominado por Distrito 9, a ficção científica encontra em Moon seu melhor representante. A ausência de cenas de ação, armas mirabolantes ou mesmo demandas apocalípticas podem ter retirado as pretensões comerciais e com isso diminui as chances de um lançamento nos cinemas brasileiros, mas é justamente isso que transforma esse drama em algo memorável.
O roteiro, também assinado por Duncan Jones, presa pelo debate aberto e intenso da natureza humana. Para canalizar essa discussão, ele nos apresenta ao já icônico Sam Bell (Sam Rockwell, de O Guia do Mochileiro das Galáxias), único morador da estação de captação de energia na Lua, instalada após a descoberta de uma nova fonte, extraída do solo lunar. Sam é seu único tripulante. Tem por companheiro a voz serena de GERTY, uma inteligência artificial dublada por Kevin Spacey.
Eles têm uma relação curiosa. GERTY devota sua existência a salvaguardar a vida de Sam, cujo contrato de três anos está prestes a terminar. Ele poderá voltar para casa. E para sua esposa e filha. Mas um acidente muda tudo. É o nascimento do Homem da Lua, uma espécie de filho das estrelas, cuja consciência – por mero acaso ou obra do destino – se distancia de seus anos anteriores.
Mergulhar nesse modo de pensar e agir, assim como na nova natureza de seu relacionamento com GERTY se torna tarefa viciante durante a projeção, e, claro, um passeio de referências pelo gênero. Óbvias, porém não indispensáveis, citações a 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Alien – O Oitavo Passageiro, Blade Runner, Solaris (ambas as versões), Guerra nas Estrelas, ao recente Sunshine – Alerta Solar e, claro, às canções Space Oddity e Starman, de David Bowie. Mas nada disso o transforma numa cópia ou mera colcha de retalhos.
A identidade de Moon é latente especialmente por sua narrativa direta, auto-consciente e sem a necessidade de grandes reviravoltas. Segredos e surpresas existem, entretanto, é nas reações de Sam Bell que reside a força desse longa-metragem.
Homem de família; astronauta esgotado pelo isolamento; sujeito simples e sem super-habilidades. Isolado por conta de um problema no sinal do satélite, que só permite o envio e recebimento de mensagens gravadas, aos poucos, Sam descobre sua verdadeira natureza, confronta seus erros de modo inusitado e atinge um nível elevado de conhecimento. Nada de nirvana ou ascensão dimensional, mas sim o simples reconhecimento de sua função. Sua razão de ser. Ele não descobre o “Sentido da Vida” dos Python, mas encontra sua própria verdade. E não há conhecimento mais poderoso que a verdade.
Essa situação torna a vida de Moon muito mais fácil em termos narrativos, justamente por não precisar de grandes estratagemas para se resolver. Um indivíduo pode ter tantos conflitos quanto toda a Humanidade, mas, de forma isolada, suas chances de evolução/compreensão se ampliam.
Pura questão de foco. E isso não falta, seja na trajetória de Sam quanto no desenrolar de sua relação com GERTY – que não toma o lugar de Hal 9000, mas chega imediatamente ao topo das inteligências artificiais mais relevantes da história do gênero. Ele se comunica por meio dos “smiles” da internet. Genial!
Tudo isso para uma conclusão bombástica. De certo modo, trata-se do mesmo Sam, mas sua mente se distanciou das demais. É sua hora de se revelar e sobrecarregar nossas mentes. Chega de esperar entre as estrelas. É brilhantismo puro.
Fábio M. Barreto é jornalista e correspondente brasileiro em Los Angeles. Além de trabalhar para as revistas Sci-Fi News, Movie e Atrevida, edita o site SOS Hollywood.