Design
Extinção dos cursos de humanas?! Que ideia imbecil
Quase nunca falo sobre política no Com limão. O tema é complicado e, nos dias atuais, muito dúbio. Mas acabo de ver uma coisa que, como designer, não dá para deixar…
Quase nunca falo sobre política no Com limão. O tema é complicado e, nos dias atuais, muito dúbio. Mas acabo de ver uma coisa que, como designer, não dá para deixar…
Quase nunca falo sobre política no Com limão. O tema é complicado e, nos dias atuais, muito dúbio. Mas acabo de ver uma coisa que, como designer, não dá para deixar passar em branco. O título da imbecilidade (não sei se existe outro termo para resumir), que acabo de ver no site do Senado Federal, é auto explicativa: “Extinção dos cursos de humanas nas universidades públicas”. Mas vamos tentar entender, afinal, pode ser apenas um mal-entendido, certo?
Antes de tudo preciso explicar que isso não passa de uma ideia – por enquanto. Uma ideia legislativa pode ser sugerida por qualquer pessoa e, ao receber 20.000 “apoios”, torna-se uma Sugestão Legislativa e é debatida pelos senadores. Pois bem, essa ideia diz o seguinte:
“São cursos baratos que facilmente poderão ser realizados em universidades privadas, a medida consiste em focar em cursos de linha (medicina, direito, engenharia e outros). Os cursos de humanas poderão ser realizados presencialmente e à distância em qualquer outra instituição paga.” O autor continua com “não é adequado usar dinheiro público e espaço direcionado a esses cursos, o país precisa de mais médicos e cientistas, os cursos de humanas poderão ser feitos nas instituições privadas. Cursos de humanas da proposta: Filosofia, História, Geografia, Sociologia, Artes e Artes Cênicas.”
Para discutir melhor, acredito que a melhor seja desmembrar e tentar interpretar cada detalhe da ideia. Então vamos lá!
“São cursos baratos que facilmente poderão ser realizados em universidades privadas” – Levando em conta que o autor descreveu os cursos (dentre eles “Artes”), provavelmente ele nunca viu a mensalidade de um curso de design. Só como exemplo, de acordo com o site da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), o bacharelado em design atualmente custa R$ 3.872,00 por mês. Super barato! *alerta de ironia*
“Não é adequado usar dinheiro público e espaço direcionado a esses cursos” – Adorei a pitada de empatia que o indivíduo adicionou a justificativa. O que seria adequado? Por que artes, por exemplo, não é uma área que merece dinheiro público e espaço dedicado? Veja que nem entrei no mérito dos demais cursos, afinal, sou designer e prefiro comentar sobre o que entendo. Falar que um ou outro não merece atenção é muita prepotência. Se bem lembro, o artigo 5º, da Constituição Federal, diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Ora, se somos todos iguais perante a justiça, porque temos que distinguir profissões?
“o país precisa de mais médicos e cientistas, os cursos de humanas poderão ser feitos nas instituições privadas” – Concordo plenamente, mas excluir outras áreas não é uma forma de incentivar a existência de mais médicos e cientistas. Dar subsídio para que eles possam sobreviver e deixar de sucatear essas áreas são ideias bem melhores. Que tal parar de perder cientistas para outros países, pelo simples fato de que aqui ele não ganha nem o dinheiro para almoçar? Isso quer dizer que se sou pobre, não posso estudar em outras áreas? São tantas as perguntas, mas tudo se resume em igualdade. Em um mundo onde discutimos tantas questões de igualdade, ter mais uma que segrega esse ou aquele perfil é tamanha burrice que faltam palavras para descrever.
Por fim, um ponto que o autor não levou em conta é que a cultura também faz parte de uma nação forte. Apesar de muitos não sentirem assim, as artes também são um pilar importante na formação de uma comunidade, seja permeando conceitos de forma histórica (veja as artes renascentistas e como elas nos “contam histórias” daquele povo/época, para citar apenas um exemplo).
Eu disse “por fim” no último parágrafo, mas vale entender mais um ponto antes de encerrar esse “textão do Facebook”. O último ponto é “quem é o autor da ideia?”. Para a infelicidade do rapaz, toda ideia é assinada por um autor e essa é de autoria do sr. Thiago Turetti. Não dá para afirmar com 100% de certeza, mas arrisco em dizer que o caro Turetti é conhecido.
Em maio de 2017, um tal de Thiago Turetti foi personagem central da matéria “Como exército de voluntários se organiza nas redes para bombar campanha de Bolsonaro a 2018”, produzida pela BBC. De acordo com a reportagem, o Thiago é “ex-seguidor do filósofo comunista Karl Marx, (mas) hoje se identifica mais com bandeiras do deputado (Jair Bolsonaro), como a castração química para estupradores”. Preciso dizer mais? Deixo no ar a dúvida.