
Crônicas
Você (e nem o outro) é um alecrim dourado
Respeito ao tempo do outro é essencial no mundo profissional. Explico como empatia e transparência ainda são os melhores cartões de visita.
Respeito ao tempo do outro é essencial no mundo profissional. Explico como empatia e transparência ainda são os melhores cartões de visita.
O que você vai descobrir a seguir:
A sua hora não vale mais (ou menos) do que a minha. A frase que abre este texto pode parecer estranha, afinal, uma das métricas mais utilizadas na área da comunicação para cobrar por um serviço é o valor por hora. No entanto, o que quero falar hoje é sobre relacionamento social e respeito, e não de preço. Mas, antes de continuarmos, precisamos deixar algumas regras claras:
Agora que já temos as regras, vou explicar melhor o tema deste texto. Nas últimas duas décadas, tive as mais diferentes formas de relacionamento que uma pessoa pode ter no universo corporativo. Já fui colaborador, gestor, cliente, empreendedor, executivo e parceiro.
Como colaborador, já tive que ser flexível com meus horários e atender meus chefes diretos nos mais diversos momentos. É até engraçado, quando, atuando em uma grande multinacional estadunidense, os colegas de trabalho me viam chegando no escritório às 11 da manhã, mas nem imaginavam que — devido ao fuso horário da minha chefe — tinha trabalhado até 23h do dia anterior. E estava tudo bem! Ter esta dinâmica de horário era parte das regras do jogo e eu aceitei. O Burnout que se seguiu neste momento da minha vida não foi pelo volume de trabalho, mas pelo volume de estresse e pressão daquele momento (ouça o podcast de 2019, onde conto um pouco sobre a experiência).
Gosto de explicar que, quando você chega a um determinado cargo em grandes corporações, o seu papel torna-se mais político, do que realmente executório. Algumas pessoas só vão entender quando atingirem este nível de maturidade.
Já como gestor, quem definia as regras do jogo era eu. Mas nunca fui uma pessoa com demandas fora do horário comercial. Filho de um advogado trabalhista que, nos últimos 40 anos, me mostrou que o bom senso é uma grande ferramenta para se trabalhar em equipe; sempre pensei em ter uma relação saudável com a minha equipe.
Como cliente, aprendi que também poderia dar as cartas do jogo. Mas, estava na mão do outro lado, definir as regras deste relacionamento profissional. Se eu quisesse uma reunião às 14h de um sábado, estava nas minhas mãos fazer o pedido. Eu era a “mão do dinheiro”. (É claro que nunca pedi isso!). Mas estava nas mãos do outro contornar este pedido e, com o “jeitinho brasileiro” propor outro momento para a reunião.
Como empreendedor, compreendi a importância de estabelecer limites claros desde o início. Nem todos os clientes ou parceiros são ideais para o seu negócio, e aprender a dizer “não” é tão crucial quanto dizer “sim” para as oportunidades certas. Contei um pouco disso no vídeo “Tá na hora de aprender a dizer NÃO”, lá no Instagram. A flexibilidade é uma via de mão dupla, e a comunicação transparente sobre expectativas e disponibilidade evita muitos desentendimentos.
Tudo isso que disse acima é para mostrar que você não é o alecrim dourado, independente do seu papel em uma relação profissional. Se você aceitou uma reunião, um encontro, uma entrevista, ou qualquer outro compromisso — virtual ou presencial — tente transformar isso em algo mais confortável possível para os dois lados.
“Ah, Victor! Você não tem dias ruins?!”. No mundo do empreendedorismo, o que mais temos são dias ruins. Empreender no Brasil é uma tarefa gratificante, mas desafiadora. Isso não quer dizer que eu entre em uma reunião querendo descontar minha frustração no outro lado. Isso não vai resolver nada e, dependendo quem está do outro lado, só vai me complicar ainda mais.
Se você tem a capacidade de mudar o humor para atender aquele cliente, por mais enfadonho que ele seja, por que não pode mudar para outra pessoa? Eu sei que é complicado, mas — como diria Bruce Lee — “seja com a água”. Ela se adapta ao seu redor; é flexível e fluída, o que permite se movimentar conforme as circunstâncias; é suave, mas com força — ela desgasta a pedra, não pela força bruta, mas pela persistência e suavidade. No jogo do mundo profissional, se você é mais água do que alecrim, as chances de sucesso são maiores.
Por fim, o mais importante. Se você aceitou uma reunião, entre no jogo. De novo, seja como a água: transparente! Teve um dia cansativo e sabe que não vai render, um “tive um dia muito exaustivo, será que podemos remarcar para amanhã” é mais bem-vindo do que um *insira aqui um suspiro de enfado* no meio da reunião.
Uma vez gravei uma entrevista com um convidado que parecia ser super simpático. Autor de várias músicas infantis e sempre sorridente, me parecia uma conversa fácil. Para a minha surpresa, a gravação foi uma das mais difíceis que já fiz. Era uma pessoa com respostas curtas, que não desenvolveu o raciocínio, e que parecia estar ali apenas por obrigação. Veja bem, ele tinha zero responsabilidade de estar ali. Ele poderia ter negado (diga-se de passagem) meu único convite para a entrevista.
Seria mais reconfortante se tivesse remarcado ou simplesmente cancelado com uma desculpa simples. Aliás, cancelar faz parte do jogo, o que você não pode fazer é deixar o outro lado sem um contato, o famoso ghosting. Como eu odeio quem faz cosplay de fantasma! Se existe uma coisa que me tira do sério é ficar 10-15 minutos esperando uma pessoa que simplesmente não vai aparecer.
Por isso, sempre que for se encontrar com alguém, lembre desta regra: você não é melhor ou pior que o outro lado. No mundo corporativo, todo mundo é adulto e a relação de interesses é normal, saudável e não deveria ser um tabu (mas isso vou deixar para outro texto).
O custo da minha hora pode ser até menor (ou maior) do que a pessoa. A real é que isso não importa. Como falei no início, não é sobre dinheiro que estamos falando, é sobre educação e empatia com o próximo.